segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um toque da graça



Constantemente somos assaltados pelo sentimento da impotência e fracasso espiritual. E neste ano de 2008 parece ter sido esta única realidade que andou comigo dia após dia. Aprendi de maneira dura que nada mais é, do que uma presunção narcisista que carregava comigo. Ou seja, o desejo de conquistar a aprovação de Deus através de meus esforços. Ficando a desejar, pensei na possiblidade de reprovação divina. Que angústia!


Todavia, um bálsamo do céu veio sobre mim, enquanto lia o livro de Brennan Manning, "O Evangelho Maltrapilho". Leitura altamente recomendada. Segue abaixo um trecho muito especial:


A oração do pobre em espírito pode ser uma única palavra: Abba (Pai). Ainda assim essa palavra pode representar interação dinâmica. Imagine uma criança pequena tentando ajudar o pai em algum trabalho doméstico, ou preparando um presente para sua mãe. A ajuda pode não ser nada além de ficar no caminho, e o presente poder ser completamente inútil, mas o amor por trás dele é simples e puro, e a resposta amoroso que ele evoca é virtualmente incontrolável. Estou convicto de que a coisa é assim entre nós e Abba. [...] Nosso desejo sincero conta muito mais que qualquer sucesso ou fracasso específico. Assim, quando tentamos orar e não conseguimos, ou quando falhamos numa tentativa sincera de demonstrar compaixão, Deus nos toca ternamente, retribuindo-nos. Nesse sentido, não existe oração ruim.


Enquanto lia este texto fui profundamente tocado por Deus. Não recebi visita angelical, não orei em línguas, não tive visões espirituais, apenas uma brisa suave em minha alma; um toque da graça na mais profunda realidade do meu ser. Fui invadido pela poderosa convicção de que fui aceito por Deus e nada fiz por merecer.
leiam este livro.
Sola Gratia

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O cristão e as festas


Fui questionado por uma pessoa se era correto um cristão ir na festa de fim de ano da empresa. Eis meu ponto de vista.


Quanto a sua pergunta "Será que eu como uma líder, agi certo?" a única maneira de responder a sua pergunta é fazendo referência ao modo operacional de Jesus. Ou seja, o que Jesus faria em teu lugar? Será que Jesus iria em uma festa da empresa? Poderemos descobrir estas respostas olhando para os evangelhos com imparcialidade e constatar a intensa vida social de Jesus. Vejamos apenas bem poucas referências:


-Jesus foi a uma festa de casamento em Caná (João 2).


-Jesus é descrito exaustivamente por todos os evangelistas como companheiro de pecadores e publicanos (considerados os traidores da pátrica e amigos de Roma).


E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores, e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos." (Mateus 9 : 10).


Devemos ter em mente que Jesus era completamente possuído pelo incomensurável amor de Deus. E tudo que fazia, somente fazia porque tinha a amor como fundamento de suas ações, até mesmo ir a cruz por nós. Tendo esta perspectiva, como o fruto do evangelho da graça de Deus (Atos 20.24), observo que até mesmo quando Jesus foi ao Templo e chicoteou a hipocrisa reinante, assim o fez por amor aos pecadores.


Mas onde estão os pecadores? Onde estão os justos? - Na ótica de Jesus, havia mais sinceridade entre os pecadores miseráveis, do que entre os religiosos de sua época. Religiosos eram aqueles que se auto-intitulavam "justos" e depreciavam aqueles que não faziam parte de seu grupinho, os excluídos do templo de Jerusalem, conhecidos pelos pretensos santos, de pecadores - (veja oração do publicano e do fariseus em Lucas 18.10 em diante). Sabe irmã, vejo que não mudou muita coisa. Os fariseus de hoje estão nos púlpitos, ministérios e nas bancos das igrejas, acreditam de todo coração que são justos por causa de seus atos piedosos e tem a presunçosa convicção de quem não precisam de cura;


Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." (Mateus 9 : 13)


Neste caso, vejo que existe mais sinceridade nos bares, nas festas e nas esquinas da vida. São pessoas que precisam de ajuda, e sabem que são doentes. Querem encontrar sentido para suas misérias existências, mas não encontram nada a não ser omissão por parte daqueles que deveriam fazer o que Jesus fez: dar atenção a eles! Hoje, nos somos os levitas e sacerdotes que passam pelo caído e não o ajudam a levantar.


E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele.


Por estas razões descritas acima, Jesus era uma aberração social e um verdadeiro escândalo para a casta farisaica. Isto porque, eles nunca entrariam na casa de um publicano, nunca se sentariam a mesa com um pecador, nunca comprimentariam uma mulher e muito menos ser companheiros delas como Jesus era de fato. Resumindo, eles nunca se assentariam com alguem desta classe. Todavia, Jesus não era legalista, era livre para amar incondicionalmente, não tinha sua vida pautada pela instituição religiosa da época e pelos padrões culturais vigentes, mas somente fazia o que o Pai mandava. Ele era apaixonado pelas vidas. E o fato dele não se preocupar com a opinião dos religiosos, os irritava demais ao ponto de pedirem sua morte na cruz. Isto sem falar dos leprosos, das mulheres menstruadas, considerados como seres mais indignos que os cachorros abandonados, pessoas que Jesus amou até o fim.


"E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?" (Marcos 2 : 16).


Portanto, sem fazer nenhuma crítica a sua decisão de não ir, acredito que Jesus não teria nenhum problema em ir na festa da empresa.




  • Voce escreveu: Na minha opinião o Espírito Santo não entra com essa pessoa nessa festa! Ou será que entra? Que comunhão tem a luz com as trevas??????!!!!!! Não é isso o que diz a palavra?

Eu responderia em Sl. 139.8-11 - Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim.


Salmo 23.4 - Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo.


O Espírito Santo é nosso selo e a luz prevalece sobre as trevas. A encarnação de Jesus é a maior exemplo. Jesus entrou neste mundo caído, se revestiu de humanidade, sofreu tentações e todas intempéries da vida humana. Além do que, o texto de Paulo que você citou se refere a cristãos que iam as casas dos deuses pagãos para se prostituirem. Acredito que estes líderes que você mencionou não foram a esta festa para praticar tais coisas. E se o Espírito Santo sair de nós todas vezes que entrarmos em algum ambiente pagão, o único local seguro para ficar seria a igreja. Esta visão é bem limitada e não é de modo algum pertinente ao evangelho. Como já disse, Jesus rompeu com esta estrutura de pensamento. Ex: Jesus foi para Galiléia, em Gadara, entrou em um cemitério e expulsou a legião para os porcos (na cultura judaica isto seria o cúmulo da impureza: cemitério, porcos, demônios, etc).




  • Voce também escreveu: Adultério, concupiscência da carne, lascívia, palavrão, bebida, briga, bebida, droga, jezabel, enfim, nada de bom.

Não precisa ir a a festa da empresa. Infelizmente estas coisas, por mais constrangedor que seja, acontece nas igrejas. Por isso a referência de Paulo é que nós não podemos simplesmente não ter contato com estas coisas, a não ser se sairmos deste mundo.


Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. I Corintios 5.9-10.


Paulo explica quem são estes que se prostituem na continuação do texto:


Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro?


Pasme! São os que estão dentro da igreja! Agora, existe duas situações. Tem gente que por motivo de consciência pode ir, outras não. Por exemplo, nao é bom que a Fulana vá, devido ao passado com drogas, ou talvez por prudência um novo convertido não deva ir também. Em Cristo, vôce tem a liberdade de não ir, e outros tem a liberdade de ir, outras não devem ir por motivos de fraqueza espiritual. Nós somos livres em Cristo, a Lei ficou no passado.


No seu caso, pode ser que não ir, seja um péssimo testemunho para aqueles que você deseja conquistar para Cristo. Até porque, a verdadeira transgressao não está no ambiente das festas, mas estão alojadas no coração, e podem estar no coração daqueles que frequentam igrejas de domingo a domingo, não é verdade? Por isso acredito que aquele que vai a festa não deve julguar aquele que não vai, e o que não vai não julgue o que vai. Pois quem não vai, deve não ir para o Senhor e quem vai deve ir para o Senhor, uma vez que tudo que fazemos deve ser feito para gloria de Deus.


E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens Col.3.17


Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. Romanos 14.5-6


Não se sinta culpada de não ter ido. Porque sei que você fez com intenção de agradar a Deus. Portanto, o mais correto é você não declarar que os que foram não estão agradando-O, pois como podemos saber se eles foram com um propósito divino? Eu mesmo irei em uma confraternização, e me assentarei na mesa com os pecadores como Jesus fazia. Claro, mantendo minhas convicções firmes, e orando para que Deus dê a oportunidade de pregar, seja com atitudes ou palavras. E tenho a convicção de que o Espírito Santo estará comigo.


Sei que fui bastante explícito, mas espero ter ajudado. Minha sincera oração é que você compreenda a profundidade do evangelho da graça de Deus e seja um verdadeiro instrumento na mão de Deus, como já tem sido.


Em Cristo, nAquele que se sentou na mesa da minha vida,


Daniel


Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. - Jesus de Nazaré.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Futebol filosófico (Grécia vs. Alemanha)

sábado, 13 de dezembro de 2008

A eternidade no coração dos homens (Ec. 3.11)

Dois comentários acerca deste bela canção de Marisa Monte.

1) Deus colocou a eternidade no coração dos homens conforme o texto de Eclesiastes 3.11. No mais profundo ser de todos nós, e em todos os seres, existe o anseio pelo "belo infindável".

Assim diz o texto do pregador de Eclesiastes: "Tudo fez formoso em seu tempo, também pôs na mente do homem a idéia da eternidade".

2) A verdade é a verdade, não importa quem seja seu portador. No meio evangélico, existe uma idéia dualista zoroástrica, de que a música secular é impia e inspirada por Satanaz. Acredito que esta poesia seja a defesa de que o sentimento humano não é inerentemente mal, senão para aquele que vê o mal em tudo, para os moralistas da religião, que nada conhecem sobre a graça comum de Deus.

Soli Deo Gloria

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Você foi feito para pensar!


Prevalece em nossos dias, principalmente dentro das igrejas mais carismáticas, um absoluto espírito de anti-intelectualismo. Não falo de um demônio burro e ignorante quando me refiro a espírito, mas discorro sobre um conceito filosófico que permeia a praxis cristã da grande maioria daqueles que frequentam as igrejas.


Obviamente seria demasiadamente longo buscar a raiz história deste conceito e os malefícios causados, mas podemos apontar o séc. XIX como o momento em que se lançou as bases da dicotomia entre a fé e a razão no seio do cristianismo, e devemos isto principalmente ao metodista Peter Cartwright [1].


Algumas características deste movimento e deste zeitgeist (espírito do tempo em alemão).


1- Um movimento tendenciosamente misticista.
2- Afastamento da revelação objetiva de Deus.
3- Oposição a teologia e ao conhecimento humano.
4- Abandono ao raciocínio e aos processos de cognição.
5- Pragmatismo e a busca por resultados através de métodos duvidosos.


Gostaria de deixar um conselho de Charles Finney (1792-1875), teólogo e filosofo americano.


"Meu irmão, irmã, amigo: leia, estude, pense e leia novamente. Você foi feito para pensar. Far-lhe-á pensar; desenvolver suas capacidades pelo estudo. Deus determinou que a religião exigisse pensar, pensar intenso, e desenvolvesse nossa capacidade de pensamento. A própria Bíblia é escrita em estilo tão condensado para exigir o mais intenso estudo".


[1] mais informações no livro "Pentecostal de coração e mente - um chamado ao dom divino do intelecto" / Rick Nañez


Soli Deo Gloria