domingo, 30 de agosto de 2009

Manter a mente aberta

Charles Finney (1792-1875)


Ainda não consegui esteriotipar minhas opiniões teológicas e parei de pensar consegui-lo um dia. A idéia é absurda. Nada, senão um intelecto onisciente, pode continuar mantendo uma identidade precisa de concepções e opiniões. Mentes finitas, a menos que adormecidas ou entorpecidas por preconceitos, devem avançar no conhecimento.

A descoberta de uma nova verdade modificará concepções e opiniões antigas, e talvez esse processo não tenha fim em mentes finitas, qualquer que seja o mundo. A verdadeira coerência cristã não consiste em estereotipar nossas opiniões e concepções e em recursar-nos a fazer qualquer progresso para não sermos acusados de mudança, mas consiste em manter a mente aberta para receber os raios da verdade por todos os lados e em mudar nossas opiniões, linguagem e prática na frequência e na velocidade com que conseguimos obter informações complementares.

Chamo-o de coerência cristã porque só essa trilha está de acordo com uma confissão cristã. Uma confissão cristã implica a confissão de uma sinceridade e de uma disposição de conhecer toda a verdade e obedecer a ela. Deve-se seguir que a coerência cristã implica investigação contínua e mudança de opinião e prática em correspondência ao conhecimento crescente.

Nenhum cristão, portanto, e nenhum teólogo deve temer uma mudança em suas concepções, linguagem ou práticas em conformidade com a luz crescente. A predominância desse temor manteria o mundo no mínimo numa imobilidade perpétua, e todos os objetos da ciência e, por conseguinte, todos os aperfeiçoamentos tornar-se-iam impossíveis.

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Charles Finney (1792-1875) em Teologia Sistemática, p.24.

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Comentário: Não sei quanto a vocês, mas quando eu li esta reflexão de Finney, eu lembrei daquela canção do Raulzito que dizia: "Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Nunca gostei da Raul, era muito louco para minha lucidez, mas há uma sabedoria no que ele cantou se analisarmos o tanto de gente que está presa a dogmas e tradições humanas julgando ser mandamento de Deus. E o pior é que estão alicerçados na firmeza da areia, acreditando de todo coração que estão na rocha.

Li em algum lugar um dia desses que o problema não está na constante mudança de idéias, mas na falta de idéias para que possa haver uma possível mudança.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

As crônicas de Nárnia


As Crônicas de Nárnia - Volume Único

Nos últimos cinqüenta anos, As crônicas de Nárnia transcenderam o gênero da fantasia para se tornar parte do cânone da literatura clássica. Cada um dos sete livros é uma obra-prima, atraindo o leitor para um mundo em que a magia encontra a realidade, e o resultado é um mundo ficcional que tem fascinado gerações. Esta edição apresenta todas as sete crônicas integralmente, num único volume magnífico. Os livros são apresentados de acordo com a ordem de preferência de Lewis, cada capítulo com uma ilustração do artista original, Pauline Baynes. Enganosamente simples e direta, As crônicas de Nárnia continuam cativando os leitores com aventuras, personagens e fatos que falam a pessoas de todas as idades, mesmo cinqüenta anos após terem sido publicadas pela primeira vez.

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O Site Submarino traz um desconto imperdível para quem deseja adquirir esta obra prima da literatura (de R$ 93,20 por apenas R$ 15,90)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Teologia filosófica é...


"...o ramo da teologia cristã que procura apresentar uma explicação racional para as verdades afirmadas pela fé cristã".
(William L. Craig)

"...o empenho para 'encontrar o ponto em comum' entre a fé cristã e as demais áreas da atividade intelectual".
(Alister E. McGrath)

"...o conhecimento de Deus que temos por meio da razão, independente de qualquer autoridade especial tal como a Igreja ou a Bíblia".
(Millard Erickson)

"...o conhecimento humano provisório sobre o mesmo e único Deus que a mensagem cristã proclama. Porém, distingue-se da teologia revelada, que é o conhecimento que se tem a partir da revelação histórica de Deus em Jesus Cristo".
(Wolfhart Pannenberg)

"...o estudo racional de Deus, ou seja, é o estudo da existência, natureza, atributos, operações de Deus, tais como podem ser captados pela inteligência humana ao refletir sobre os fenômenos que podemos experimentar neste mundo".
(Battista Mondin)

"...a tentativa de explicar o conteúdo da mensagem cristã a partir das questões de ordem última levantadas pela filosofia".
(Paul Tillich)
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Fonte: Blog do Jonas Madureira

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sucesso


"Não procurem o sucesso. Quanto mais vocês o procurarem e o transformarem num alvo, mais vocês vão errar. Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser. A felicidade deve acontecer naturalmente, e o mesmo ocorre com o sucesso; vocês precisam deixá-lo acontecer não se preocupando com ele. Quero que vocês escutem o que sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira possível. E então vocês verão que a longo prazo - estou dizendo: a longo prazo! - o sucesso vai persegui-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar nele"

Viktor E. Frankl (1905-1997) no prefácio do livro "Em busca de sentido - Um psicólogo no campo de concentração".

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Breve histórico de Viktor E. Frankl: Foi professor de Neurologia e Psiquiatria na Universidade de Viena. É o fundador da Logoterapia, chamada de terceira escola vienense de terapia (as duas primeiras são a da Psicanálise de Freud e da Psicologia individual de Adler). Publicou 32 livros, que foram traduzidos para 27 línguas. Sobreviveu durante 13 anos ao terror de Auschwitz, o pior campo de concentração nazista. Perdeu o pai, a mãe, o irmão e a esposa em campos de concentração.

domingo, 23 de agosto de 2009

Deus sobre a cruz



O único Deus em quem eu creio é aquele que Nietzche, filósofo alemão de século 19, ridicularizou, chamando-o de "Deus sobre a cruz". No mundo real da dor, como adorar um Deus que fosse imune a ela? ... O crucificado é o Deus por mim! Ele colocou de lado a sua imunidade para sentir a dor. Ele entrou em nosso mundo de carne e sangue, lágrimas e morte. Nossos sofrimentos tornam-se mais suportáveis à luz do Cristo crucificado. Há ainda um ponto de interrogação no sofrimento humano, mas sobre ele estampamos ousadamente outra marca - a cruz, símbolo do sofrimento divino.

John Stott em Por que sou cristão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ladrões de ovelhas

Por C.H. Spurgeon (1834-1892)

Não consideramos como ganhar almas roubar membros de outras igrejas já estabelecidas, e ensinar-lhes nosso shiboleth peculiar, isto é, as coisas que caracterizam nossa igreja ou denominação. Nosso objetivo é levar almas a Cristo, antes que conseguir adeptos para nossa igreja.

Não faltam ladrões de ovelhas. Deles nada direi, exceto que não são “irmãos” ou, pelo menos, não agem de maneira fraternal. A juízo de seu Mestre, permanecem ou caem. Achamos que é suma baixeza construir nossa casa com os escombros das mansões de nossos vizinhos. Preferimos mil vezes extrair nós mesmos as pedras da pedreira.

Desejamos que as igrejas prosperem porque Deus abençoa os homens por meio delas, e não por causa das igrejas em si. Há uma espécie de egoísmo em nossa avidez pelo engrandecimento do nosso grupo. Que Deus nos livre deste mau espírito! O crescimento do reino é mais desejável do que aumento de um grupo sectário.

O nosso grande objetivo não é a revisão de opiniões, mas sim a regeneração da natureza das pessoas. Queremos levar os homens a Cristo, e não aos nossos conceitos particulares do cristianismo. Nosso primeiro cuidado é no sentido de que as ovelhas se reúnam com o grande Pastor. Haverá tempo depois para mantê-las seguras em nossos diversos apriscos. Fazer prosélitos é bom trabalho para fariseus; conduzir almas a Deus é o honroso propósito dos ministros de Cristo.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A casa vazia do diabo


Texto: Daniel Grubba


Quem deu este tipo de poder a esta criatura? Certamente não Deus!Ele o baniu! Ele não tem poder natural...A triste verdade é que a força dele vem de nós. Porque acham que ele trabalha tanto? Arrematando o máximo de almas humanas possíveis só porque elas possuem o que ele não tem: livre-arbítrio.

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Esta pequena sentença acima foi pronunciada por Anthony Hopkins no filme "O Julgamento do diabo". Com estas palavras o júri composto por alguns mortos ilustres, entres eles Oscar Wilde e Ernest Hemingway (não me pergunte o motivo), decretou a libertação da alma do fracassado escritor interpretado por Alec Baldwin, que após uma série de desgraças vendeu sua alma para o diabo (interpretado pela atriz Jennifer Love Hewitt) em troca de sucesso e fama. Não precisamos dizer que a vida do pobre escritor mudou para melhor, no entanto os efeitos colaterais se tornaram, com o passar do tempo, insuportáveis. O preço desta negociata com o diabo foi alto demais: ele se tornou um ser infeliz, vazio, descaracterizado e sua vida se tornou uma grande farsa.

Algo me chamou atenção na fala de Hopkins, o advogado do escritor vendido. Ele disse que o diabo não possui nada que venha dele mesmo. Esta criatura desprezível, é absolutamente vazia. C.S. Lewis no seu irônico livro "Cartas de um diado a seu aprendiz" se referiu ao diabo como um ser vazio, que deseja ardentemente sugar a essência dos homens, e que seu principal objetivo nesta guerra é criar um mundo no qual o Pai das Profundezas possa absorver todos os outros seres nele mesmo. Em outras palavras, sua maligna intenção é afastar o homem da luz, arrastá-lo para o nada e absorve-lo até que este ser não exista para si mesmo mas para o "existir do inferno".

Esta é a estratégia desde o Éden. A serpente se alimenta de pó. E de que somos feito afinal de acordo com a antropologia bíblica? Sim, somos pó, e a antiga serpente se alimenta de tal modo que se torna um Dragão no Apocalipse. Seu alimento é sugar a vontade e a liberdade dos seres mais fracos.

É por isso que ele sai em procura de casas vazias e adornadas. Somente em uma casa vazia que este ser vazio encontra habitação, possui e assume controle. Portanto, no desenrolar da história humana ele vai se tornando um regente de pessoas vazias que ironicamente acabam tornando-se "cheias de si mesmo", levando-as a viver uma busca cada vez maior por um prazer cada vez menor, possuindo suas almas e não dando nada em troca. Deste modo, o príncipe da potestade do ar toca sua banda, escraviza, subjuga, e engole os filhos da desobediência, que vivem livremente de acordo com suas paixões vazias, na circunscrição de sua perversa manipulação (Ef. 2.2).

O Deus trino é cheio. Cheio de graça e verdade, benignidade e misericórdia. Ele é a luz verdadeira que ilumina todo homem, e nele não há trevas (vazio). A vida de Jesus revela esta verdade com exatidão, pois o texto sagrado diz que Cristo foi habitado corporalmente por toda a plenitude de Deus (Cl 2.9); Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse (Cl 1.19). - Jesus era absolutamente cheio da vida de Deus. E assim, seguindo a ordem das coisas, somos chamados a sermos cheios da luz divina e de seu santo Espírito (Ef 5.18), transbordando do nosso interior rios de água viva, para a gloria do nosso Deus e Pai de nosso Senhor Jesus.

"E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus." (Efésios 3 : 19)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Cão de caça do céu



Texto: Daniel Grubba

Nós aprendemos desde cedo, e de modo bastante enfático, que devemos a todo custo buscar a Deus. Aprendemos também que cabe a nós, exclusivamente, esta busca pelo divino-transcedental. Somente quem busca; encontra. Mas não pense que é uma busca qualquer “a gosto do freguês”, com licença da expressão. Deve ser, antes de mais nada, uma busca de coração extravagante, algo tão apaixonado que converta a atenção de Deus a nós e o constranja a agir em nosso favor. É assim que aprendemos.

Penso que há grande sabedoria nisso tudo. No entanto, há algo que aos poucos foi deixado de lado, e em virtude de influências antropocêntricas, Deus se tornou “alguém-a-ser-caçado” e nós, os caçadores. A partir daí, todo sucesso desta relação entre o humano e o divino, está em nossas mãos. Ou seja: é você que decide, o controle está em suas mãos e você pode (ou não) mover as mãos de Deus.

Temos em virtude deste ensino grande apreço por livros como “Caçadores de Deus” e também por outras literaturas que nos ensinam os caminhos espirituais-devocionais que nos levam a Deus. Gostamos muito também de reuniões espirituais que nos prometem conexões com as realidades metafísicas. Afinal, quem não deseja viver em proximidade com Deus? E quem dentre nós não quer descobrir os “meios” que abrem as portas do céu e tornam possível uma dinâmica relacional e intensa com o divino?

Porém, esta busca pelo divino reflete apenas um lado da moeda, e de acordo com a espiritualidade cristã-judaica, vista da perspectiva cristocêntrica, este lado é a parte mais frágil. E mais do que isso, além de ser a mais frágil, este lado humano apenas subsiste por causa do outro lado, absolutamente mais determinante nesta relação: Deus é caçador do homem. Por isso dizemos “Cão de caça do céu” relembrando a linda poesia de Francis Thompson.

Sim, antes de sermos os caçadores das coisas divinas, Deus é aquele que caça o homem apaixonadamente. Não é verdade que “nós apenas amamos a Deus, porque Deus nós amou primeiro?” (I Jo 4.19). R.M. Gautrey, não gostou do termo “cão de caça”, mas enfim ele se rendeu e disse que Deus é como aqueles esplendorosos cães de caça (collies) que buscam as ovelhas perdidas nas altas montanhas escocesas, a fim de livrá-las dos perigos da morte. É ele que, antes de qualquer ato devocional nosso, para todos seus deveres para procurar a dracma perdida; é Ele que deixa as noventa e nove no aprisco e sai em busca da desgarrada; é Ele que antes de toda a criação foi imolado como cordeiro que tira o pecado do mundo; é Ele que deixou toda sua gloria celestial e veio como luz ao mundo morrer como um maldito na cruz para nos atrair a Ele. Este é a verdadeiro segredo da atração, não a nossa busca por Ele, mas seu eterno amor que nos atrai a sua santíssima presença.

"Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento." (Oséias 11 : 4)

"Há muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí." (Jeremias 31 : 3)

John Stott dedicou um capitulo de seu livro “Porque sou cristão?” para exaltar ao Cão de caça do céu, afirmando que foi a caça deste “amante tremendo” que tornou possível sua conversão a Cristo. Assim ele disse: “Jesus nos assegura em suas parábolas que, quer estejamos conscientemente buscando a Deus, quer não, ele com certeza está nos buscando.”

Agostinho em suas "Confissões" também registrou esta caça divina:

"Tu me chamaste, gritaste por mim, e venceste minha surdez. Brilhaste, e teu esplendor pôs em fuga minha cegueira. Exalaste teu perfume, respirei-o, e agora suspiro por ti. Eu te saboreei, e agora sinto fome e sede. Tocaste-me, e o desejo de tua paz me inflama."


Deus é quem nos busca. Ele mesmo está empenhado em nos guiar em toda verdade e outorgar a nós seus atributos comunicáveis. E somente a partir deste esforço celestial que podemos então buscar a Deus. Por isso, somente o buscamos porque Ele nos buscou primeiro. Esta deve ser a raiz de toda nossa espiritualidade e devoção. Fomos caçados graciosamente de modo tão irresistivel que agora não resta mais nada, senão escolher a melhor parte como fez Maria, e ficar prostrado aos Seus pés.

Se somos de fato cristãos, não é porque tenhamos nos decidido por Cristo, mas porque Cristo se decidiu por nós. É a busca desse “amante tremendo” que nos torna cristãos. (Francis Thompson )

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Desperta, tu que dormes



Texto: Daniel Grubba


A verdadeira mensagem cristã não é alienadora, ao contrário disso, é libertadora; Ela nos liberta de uma vida auto-centrada e egoísta; e uma vez iluminados pela verdade, nada mais fica no mesmo lugar, pois no seio desta anunciação está a boa notícia para o oprimido.

A verdade é que o espírito desta mensagem está em profundo antagônismo a alienação em todas suas matizes e esferas. E isto significa que o verdadeiro evangelho carrega uma mensagem de despertamento de consciências letárgicas, que por sua vez podem ter se tornado letárgicas em virtude de filosofias secularizadas ou sistemas religiosos. E penso que o segundo caso é mais perigoso que o primeiro. Sim, pois prerrogam para si um "carimbo do céu" que supostamente legaliza seu estado de dessensibilização.

Por isso não causa espanto nenhum ver nos evangelhos Jesus chamando a atenção daqueles ultra-religiosos que diziam: "Nós vemos". Ora, se de fato vissem alguma coisa, não seriam repreendidos por Jesus por causa de sua cegueira, e veriam com clareza seu estado de alienação. Portanto à estes Jesus disse: "Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece." (João 9 : 41).

Alienação-cegueira a que exatamente?

Alienação em relação a agenda de Deus. E a agenda de Deus é o próximo. E quem é meu próximo? Foi o que perguntou um certo doutor da lei para Jesus, na inútil tentativa de justificar a si mesmo. Jesus disse que o próximo é um homem que descia de Jerusalém para Jericó, foi roubado, ferido e agora está abandonado a própria sorte. E pior do que isso, dependendo da compaixão de sacerdotes e levitas completamente alienados a dor que ele sente, pois são gente que julgam enxergam alguma coisa mas na verdade são cegos. Que tipo de cegos eles eram? Do tipo daqueles que se preocupam com suas atividades religiosas acima de tudo e de todos, e o caído para estes é mais um pecador que merece seu fardo, afinal só um pecador pode estar assim; tão caído.

Ora, quem são os caídos pelo caminho em nosso atual contexto? Se disponha a olhar ao seu redor nos ambientes que você frequenta e você os verá. Ande algumas quadras em seu bairro e ali eles estarão.Você encontrá o nu que não foi vestido, o faminto que não foi alimentado, o prisioneiro que não foi visitado e além deles; o Senhor (Mateus 25.35-46).


Menno Simons, teólogo da reforma, disse: "A fé evangélica verdadeira [...] não pode permanecer adormecida, mas manifesta-se em toda bondade e ações de amor. Ela veste o nu, alimenta os famintos, consola os aflitos, abriga os miseráveis, ajuda e consola todos os oprimidos, retribui o bem pelo mal, serve àqueles que a ferem e ora por aqueles que a perseguem"

Segundo o IPEA, 10% da população mais rica do Brasil detêm 75,4% de todas as riquezas do país. O que o Evangelho que pregamos pensa a respeito disso?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Demônios


Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles. Os próprios demônios ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros...

C.S. Lewis em Cartas de um diabo a seu aprendiz, p. IX.

sábado, 8 de agosto de 2009

Os profetas

Texto: Ricardo Gondim

Os profetas marcaram a história judaica
por se oporem ao cerimonialismo religioso sustentado pela lógica sacrificial e pelo peleguismo sacerdotal. Eles forneceram conteúdos éticos à consciência política e ao tecido social. Os profetas encararam o rei para defender viúvas pobres. Amargaram a pobreza para denunciar desvios morais entre o povo.

Os profetas eram moscas que atrapalhavam a sala do perfumista corrupto; suas palavras, martelos que despedaçavam corações de pedra; seus olhos, faíscas do fogo consumidor da justiça. Se vidas corriam perigo, não temiam descer em fossas fétidas. Não havia dinheiro que os comprasse. Os profetas desmascaravam personagens que ritualizavam a espiritualidade, desdouravam promessas de paz e caminhavam na contramão do sucesso.

Os profetas detectavam os blefes do jogo do poder. De dedo em riste, saiam do palácio para clamar no deserto. Mesmo sabendo que não seriam ouvidos, insistiam em prenunciar os despenhadeiros que a falta de amor abria. Prometiam trevas pela falta de ética e morte pelo egoismo. Desprezados em vida, precisaram esperar que o futuro lhes desse razão. Mas mesmo assim perseveram sob ameaça de assassinato e ostracismo.

Os profetas sentiram as dores divinas. Percebendo que a história descambava, se colocavam na brecha. Vendo que os acontecimentos fugiam do controle divino, vociferavam maldições. Os profetas sofriam, indignados com a banalização da vida e com a morte desnecessária de inocentes. Mais que porta-vozes do além, encarnavam o coração paterno de Deus.

Os profetas foram sentinelas nas muralhas que protegiam as cidades, bússulas na incipiente ética primitiva, faróis da esperança futura. Israel deve a eles sua permanência histórica mesmo tendo sido considerado uma Sodoma e se mostrado mais vil que os povos inumanos que o rodeavam. O judeu só não desapareceu como esterco da história devido a Isaías, Ezequiel, Oséias e outros.

Os profetas continuam necessários. Sem eles, as pedras clamam, Deus não fala, o futuro inexiste, toda a perspectiva se esgarça e o inferno se viabiliza. Nunca se precisou tanto deles, principalmente, agora, nesse protestantismo cooptado pelo mercado e instrumentalizado pela ganância.

Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim

Vi no Pavablog

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Indiferença



A vida cristã não demonstra indiferença àqueles que estão famintos e doentes ou têm qualquer outra dificuldade. A vida cristã não consiste em contentar-nos com as coisas que temos, ou com um viver da classe média, desfrutando de uma grande casa, carros novos, roupas finas e boas férias, ou com uma boa formação educacional, ou com a riqueza espiritual de boas igrejas, Bíblias, ensino correto das Escrituras, amigos ou uma comunidade cristã.

Pelo contrário, a vida cristã envolve a conscientização de que outros carecem de tais coisas; portanto, precisamos sacrificar nossos próprios interesses, para nos identificarmos com eles, comunicando-lhes cada vez mais a abundância que desfrutamos…Viveremos inteiramente para Cristo somente quando estivermos dispostos a empobrecer, se necessário, para que outros sejam ajudados.

James Montgomery Boyce em "A Centralidade da Cruz".

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A igreja também precisa de teólogos?


Por Lourenço Stelio Rega

Tendo em vista nossas raízes ligadas na outra América, herdamos o foco de pragmatizarmos o ministério e a vida da igreja, acreditando que a igreja é o reino de Deus e, pior ainda, acreditando que o Cristianismo se resume em atividades eclesiásticas. Creio que essa seja a principal causa de se levantar a questão “formar pastores ou teólogos?” Como já expliquei, não há como formar pastores ou ministros sem dar-lhe conteúdo teológico. É como ensinar um médico a aplicar injeção, sem dar-lhe o conteúdo (medicamento que vai na seringa).

Por outro lado, a igreja, que tem sido transformada num fim em si mesma, parece-me que tem se tornado num gueto de fim de semana ou um instrumento “fabril” de manufaturar convertidos. Mas Jesus nos deixou a missão de sermos sal da terra e luz do mundo, portanto a igreja (como instituição e como membrezia) precisa ser expressiva em seu entorno, como os cristãos primitivos que onde passavam “transtornavam” o ambiente não apenas com a pregação (kerygma), mas com a sua comunhão (koinonia) manifesta e a vida de seus membros (matyreo – testemunhas de vida e não apenas de pregação ou palavra). Uma boa parte das igrejas já não cumprem mais este papel. Como ser sal da terra e luz do mundo sem compreender o próprio mundo, o espírito de época, as forças ideológicas que governam as pessoas e o mundo?

O papel dos teólogos

Aqui entra o papel dos teólogos – interpretar o mundo à luz da Palavra de Deus e encontrar respostas para que as igrejas possam ser como que a “encarnação” de Cristo em seu entorno. Mas o que tem acontecido com os teólogos?

1- Isolados

Ou eles estão isolados nos seminários ou entrincheirados. Os primeiros descobriram que seu discurso não tem efeito nas igrejas, então, preferiam se “isolar no mosteiro” e o seu relacionamento mais forte acaba sendo no meio editorial.

2- Entrincheirados

O segundo grupo (os da trincheira), acabam se amargurando pela rejeição que sofrem dos líderes-práticos, que acabam se tornando críticos-ácidos contra as igrejas e denominação. Se entrincheiraram transformando seu ministério-magisterial numa ação belicosa. Precisamos conquistar os primeiros para que possam servir às igrejas e orar pelos segundos para que revejam suas prioridades e estratégias.

3- Servos atuantes

Recentemente os pastores de São Paulo precisaram se manifestar sobre a homofobia e o infanticídio indígena. Nos pediram socorro e pudemos produzir manifestos que foram publicados e encaminhado às autoridades. São os teólogos à serviço da igreja, dando-lhe suporte para reagir a este mundo sem Deus.

Enfim, em vez de considerar componentes antagônicos ou nutrir preconceitos, desafio você a repensar a pergunta inicial considerando o que aqui foi possível propor. Um abraço a todos – pastores e teólogos.

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Lourenço Stelio Rega, Mestre em Teologia, Mestre em Teologia, Mestre em Educação, Doutor em Ciências da Religião; diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo

domingo, 2 de agosto de 2009

Decepção profunda pela igreja

Por Martin Luther King Jr.


Em decepção profunda, chorei pela frouxidão da igreja. Mas estejam certos de que minhas lágrimas foram lágrimas de amor. Não pode existir decepção profunda onde não existe amor profundo. Sim, amo a igreja. Como poderia não amar?


Não digo isso como um daqueles críticos negativos que sempre conseguem encontrar algo errado na igreja. Digo isso como um sacerdote do evangelho, que ama a igreja; que foi acalentado em seu seio; que tem sido sustentado por suas bênçãos espirituais e que permanecerá fiel a ela enquanto o fio da vida estender-se.

...Em decepção profunda, chorei pela frouxidão da igreja. Mas estejam certos de que minhas lágrimas foram lágrimas de amor. Não pode existir decepção profunda onde não existe amor profundo. Sim, amo a igreja. Como poderia não amar? Estou na posição um tanto singular de filho, neto e bisneto de pregadores. Sim, vejo a igreja como o corpo de Cristo. Mas, oh!, como maculamos e deixamos cicatrizes nesse corpo por meio da negligência social e por meio do medo de sermos não-conformistas.

Houve um tempo em que a igreja era bastante poderosa – no tempo em que os primeiros cristãos regozijavam-se por ser considerados dignos de ter sofrido por aquilo em que acreditavam. Naqueles dias, a igreja não era apenas um termômetro que registrava as idéias e princípios da opinião pública; era um termostato que transformava os costumes da sociedade.

Quando os primeiros cristãos entravam em uma cidade, as pessoas no poder ficavam transtornadas e imediatamente buscavam condenar os cristãos por serem “perturbadores da paz” e “forasteiros agitadores”. Mas os cristãos prosseguiam, com a convicção de que eram “uma colônia do céu”, que devia obediência a Deus e não ao homem. Pequenos em número, eram grandes em compromisso. Eles eram intoxicados demais por Deus para serem “astronomicamente intimidados”.

Com seu esforço e exemplo, puseram um fim em maldades antigas como o infanticídio e duelos de gladiadores. As coisas são diferentes agora. Com tanta frequência a igreja contemporânea é uma voz fraca, ineficaz com um som incerto. Com tanta frequência é uma arquidefensora do status quo. Longe de se sentir transtornada pela presença da igreja, a estrutura do poder da comunidade normal é confortada pela sanção silenciosa – e com frequência sonora – da igreja das coisas tais como são.

Mas o julgamento de Deus pesa sobre a igreja como nunca pesou. Se a igreja atual não recuperar o espírito de sacrifício da igreja primitiva, perderá sua autenticidade, será privada da lealdade de milhões e será descartada como um clube social irrelevante com nenhum significado para o século XX. Todos os dias, encontro pessoas jovens cuja decepção com a igreja tornou-se uma repugnância absoluta.

Trechos da *Carta de uma prisão em Birmingham*

Fonte: OrdemLivre.org via Pavablog