O livro de Ana Mendez, como não poderia deixar de ser, é um livro baseado em visões e revelações proféticas. Alias, Ana Mendez tem sido considerada como profetiza e
apóstola no famoso grupo "rede
apostólica internacional". Todavia, a intenção da autora em compartilhar com os leitores sua visão é nobre, porém peca na falta de
fundamentação bíblica. O
próprio editor
Pr.
Silas Quirino, no prefacio a edição brasileira, alerta aos leitores assim:
Os que intentarem ler este livro de uma perspectiva meramente acadêmico-exegética, talvez, não aguentem chegar ao fim, porque sua natureza não é esta, p.10.Ana Mendez, então, interpreta a Bíblia à luz de suas experiências pessoais, quando a regra para uma correta interpretação do texto é o oposto disso. Ela, por exemplo, diz que devemos ver e entrar no Reino de Deus literalmente (baseado em João 3). Então devemos orar, ser arrebatados e ver Deus face a face. Ou seja, não precisamos esperar morrer para isso. Como ela chegou a esta conclusão? Segundo relatado no livro, ela foi arrebata ao céu várias vezes e viu Deus e seu Reino. Então nada mais natural sugerir que este texto que registra a fala de Jesus com Nicodemus signifique o que a experiência dela a ensinou.
De fato, Ana, deseja que a igreja alcance um nível de intimidade, que ela chama, o nível da Noiva. Ser filho, para ela, não basta mais, há níveis mais profundos. O problema nesta visão é que ela foi mais uma vez demasiadamente literalista. Na página 132, ela chega a dizer que enquanto noiva, teve uma experiência com os beijos da boca do Senhor. Achei um pouco estranho. Ela testemunha assim: Numa ocasião, enquanto adorava e sentia "esses beijos" da boca do Senhor; Ele me levou, em espírito, ao céus.
Precisamos sempre nos lembrar que devemos julgar as experiências a luz da palavra de Deus e não o contrário. E Ana Mendez, como tem aversão ao estudo teológico, não se preocupa em fazer isso. O importante, segundo ela, é ser arrebatado, ouvir novas palavras de Deus, ver o Reino literalmente, etc. Chama atenção a falta de alertas para que estas experiências sejam governadas pela palavra escrita de Deus.
Como postei no artigo inteiro, acredito que é importante cultivarmos um fé viva e experimental, mas nunca podemos deixar de firmar nossos pés na sólida edificação dos apóstolos e profetas na Bíblia, e não como ela sugere quando diz que uma nova edificação apostólica está sendo alicerçada. Para Ana Mendez, estamos para viver a verdadeira unção apostólica.
Fiquei com a sensação, que ainda que ela não goste de teologia, existe neste livro uma teologia bem peculiar, e por mais que tente, não há como fugir disso. Todos que falam de Deus estão teologizando. E dentre muitas particularidades, duas chamam atenção de qualquer leitor. Primeiro, o fato de Ana tentar inculcar que nos somos espíritos e menos carne (uma visa bastante platônica e agnóstica, onde o corpo é inerentemente mal.) Segundo, a teologia bizantina de ver a Deus fisicamente, literalmente.
Acretido que Ana Mendez é uma serva de Deus, piedosa, e certamente deseja com devoção a manifestação do Reino de Deus. Não sou contra a pessoa de Ana Mendez, de modo algum. Mas lendo seus escritos, me convenço mais uma vez que a Bíblia precisa ser o alicerce de toda nossa vida cristã. Fugir disso, pode ser perigoso.
O livro pode edificar quem busca uma fé mais sobrenatural, mas não convence teologicamente.
Soli Deo Gloria