sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Um homem no buraco

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Jesus, saduceus e apologética


Qualquer leitor atento do Novo Testamento percebe que Jesus era constantemente assediado com questionamentos capciosos, que tinham muitas vezes, o propósito de fazê-lo cair em algum tipo de contradição. Bastar lermos o capítulo inteiro de Mateus 22 e veremos a exemplificação desta particularidade e a necessidade do ministério apologético de Jesus. Somente neste texto Jesus é encurralado por três vezes. Primeiro pelos discipulos dos fariseus e herodianos, depois os saduceus e por fim, um doutor da lei. São três ataques sistemáticos que visavam enfraquecer a doutrina de Jesus. Eis abaixo apenas um deles;


Então os fariseus se retiraram e consultaram entre si como o apanhariam em alguma palavra e enviaram-lhe os seus discípulos, juntamente com os herodianos, a dizer; Mestre, sabemos que és verdadeiro, e que ensinas segundo a verdade o caminho de Deus, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens. Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar tributo a César, ou não? Jesus, porém, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas? (Mt 22.15-18)


A verdade é que Jesus chamava a atenção, Ele tinha uma autoridade incomum (Mc. 1.22). Certamente alguém que diz ser o divino Filho de Deus, já deveria esperar por isso. Ou seria questionado quanto a veracidade desta auto-afirmação ou questionado quanto a melhor maneira de se relacionar com esta verdade. E foi questionado sob ambas perspectivas. Ora perguntavam os céticos: De onde vem sua a autoridade? Outrora perguntavam os contritos: Para onde irei se só tus tens palavras de vida eterna?



Os saduceus



Os saduceus faziam parte de um selecto grupo político-religioso da época, e não deixaram de questionar Jesus. Como não acreditavam na ressurreição dos mortos, obviamente estranharam o ensino de Jesus. Uma vez que a promessa basilar de Jesus era a ressurreição, e Ele mesmo exclamou "Eu sou a ressurreição e a vida", segui-lo seria incompatibilidade absoluta de crenças. Mas o problema não parava por ai, deixá-lo pregar com liberdade implicava em um crescente descrédito da doutrina anti-ressurreição dos saduceus. Foi assim que os saduceus foram atacar a doutrina de Jesus com uma perspicácia feroz. Assim está registrado o ataque:


No mesmo dia vieram alguns saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, dizendo: Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, seu irmão casará com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. Ora, havia entre nós sete irmãos: o primeiro, tendo casado, morreu: e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão; da mesma sorte também o segundo, o terceiro, até o sétimo. depois de todos, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será ela esposa, pois todos a tiveram?

Apologética defensiva e ofensiva
De acordo com os principais apologistas, a apologética pode ser dividida a grosso modo em dois tipos: apologética ofensiva (ou de afirmação) e apologética defensiva (ou de negação). Isto quer dizer que a apologética apresenta argumentos positivos para as verdades proposicionais e, de outro, refuta as objeções suscitadas contra essas mesmas verdades.


É interessante ver Jesus usando as duas táticas apologéticas para aniquilar o ataque do Saduceus e deste modo defender a veracidada da doutrina da ressurreição.

1) apologética defensiva

Jesus responde ao ataque dizendo que os ressurretos sao como anjos no céu. Anjos não tem sexo. Logo, a retórica da pergunta dos saduceus é ridicularizada por Jesus como desprovida de qualquer sentido racional. Jesus não se importou em mostrar que esta pergunta era um solvente que se auto-destruia.

2) apologética ofensiva


Jesus defendeu e agora passa a atacar a cosmovisão dos saduceus, argumentando em favor da ressurreição, usando um texto do Pentateuco. E porque não usou Isaias 26.19 ou Daniel 12.2 que são tão claros em defender a ressurreição? A resposta é que os saduceus aceitavam como autoridade divina apenas o pentateuco, não os demais livros do AT e muito menos a tradição rabínica (aqui reside uma das diferenças entre saduceus e fariseus). Portanto, não faria sentido Jesus usar um texto que eles não consideravam como fonte de autoridade.


Jesus diz que Deus se apresentou a Moises como o Deus dos patriarcas. Ora, se Yahweh se diz ser o Deus deles, é porque eles ainda vivem, não importa em que realidade. Se não estivessem vivos, não importa em que realidade, ou se nao existissem mais, nao faria nenhum sentido Yahweh se apresentar como o Deus deles. De acordo com a retórica de Jesus, a doutrina dos saduceus só haveria sentido apenas se Deus tivesse dito: Eu fui o Deus de seus pais e não sou mais uma vez que eles deixaram de existir quando morreram.



Conclusão do debate de Jesus em Mateus 22?


-E as multidões, ouvindo isso, se maravilhavam da sua doutrina. v.33.

- Fez emudecer os saduceus. v.34.

- E ninguém podia responder-lhe palavra; nem desde aquele dia jamais ousou alguém interrogá-lo. v.46


Como podemos ver, Jesus se mostrou um hábil apologista. Por isto atente-se ao que diz em I Pe 3.15 e ore a Deus por estratégias para que você possa defender sua fé quando atacada e atacar quando necessário.

Elogio da Loucura / Erasmo de Rotterdam

Após um semestre lendo muitos teólogos, filósofos e suas teorias, achei que deveria ler alguma coisa que conferisse ao meu ser um pouco mais de paixão, um pouco mais de loucura. Então, começei a ler a obra do humanista e teólogo Erasmo de Rotterdam (1469-1536), Elogia do Loucura. Que leitura agradável!!!


Acredito que este livro é um santo remédio para todos os que buscam um pouco de equílibrio, para aqueles que sabem que não são meras máquinas pensantes abstratas, para os que ainda carregam paixôes e loucuras, para os que tentaram colocar o céu dentro da cabeça e não suportaram a pressão da infinutude (parafraseando Chesterton), enfim...é um clássico que deve ser lido, reelido e degustado.


No livro de Erasmo quem fala em primeira pessoa é a locura (semelhante alguns textos em Provérbios que mostra a personificação da sabedoria). Portanto, a loucura critica com um sagaz tom de ironia (chega a ser muito engraçado), os fílosofos, racionalistas, papas, reis, e os que se julgam sábios e na verdade são loucos, afinal quem não tem um pouco de loucura?

Não tem como não lembrar da crítica de Jesus aos fariseus. Seriam os filósofos, os fariseus da época de Erasmo? Para Erasmo, "só a loucura leva os homens a verdadeira sabedoria", isto porque o filósofo especula, o louco se entrega. Erasmo questiona: Como viver sem paixão? Os que vivem sem paixão, apenas guiados pela razão, vivem no mundo imaginário de Platão e não neste mundo real. Eles na verdade, acreditam que não são loucos, mas são os maiores de todos os loucos.


Vale lembrar que o "Elogio da Loucura" foi um agente poderoso de influência na vida de Lutero e consequentemente um dos catalisadores da Reforma protestante. É um livro indispensável para todos aqueles que desejam ser pensadores apaixonados e por que não dizer, loucos?

Sócrates e Jesus: O debate


Peter Kreeft teve uma bela inspiração ao compor neste livro uma representação pictórica da razão em busca da verdade. Segundo o autor, a inspiração do livro surgiu em virtude de duas leituras em especial; o primeiro capítulo de Migalhas filosóficas de ;Soren Kierkegaard, onde o teólogo e filósofo dinamarquês faz um comparativo entre a doutrina de Sócrates e a doutrina de Jesus; e a segunda leitura foi Atos 17.15-34, que mostra o apóstolo Paulo discutindo com os filósofos de Atenas.

Para Peter Kreeft "a razão humana, embora decaída, é projetada por Deus. Não há nada de errado com essa espada, apenas a forma como a empunhamos, tendo em vista que foi moldada no céu...esse Deus que não se contradiz nos deu dois detectores da verdade, a fé e razão; conclui-se que a fé e a razão, se empregadas corretamente, nunca se contradizem".

Peter Kreeft foi ousado ao colocar Sócrates em pleno séc.xx na Universidade de Havard, especificamente no curso de teologia. Imagina só...Sócrates discutindo com os pluralistas, relativistas, liberalistas e os enchendo de perguntas desconcertantes, todas elas permeadas com a imutável lei da não-contradição. É claro, por questões obvias, que as discussões não refletem a totalidade do pensamento Sócrates, mas apenas o método desenvolvido por ele (método socrático). Alguns temas abordados pelo autor do livro, são:

1. o pseudo-progresso da raça humana.
2. Fundamentalismo e cristianismo. Segundo o método socrático, toda verdade é fundamentalista, pois ela exclui automaticamente o que é contrária a ela.
3. Uma discussão sobre milagres e a possibilidade racional de sua existência.
4. Relativismo e pluralismo. Neste caso, o método socrático expõe a irracionalidade do pensamento de nosso tempo e suas contradições.
5. O conceito socrático de Deus em comparação com o AT. (Sócrates leu o AT e mudou seus conceitos...Kreeft foi genial...)
6. O pessoa de Jesus e sua singularidade (Sócrates também leu o NT e se encantou com a pessoa de Jesus).
7. A ressurreição como fato histórico.
Bom, no fim do livro Sócrates está completamente comprometido com a verdade do evangelho e destruindo o frágil fundamento da "fé liberalista" dos professores de Harvard. Demais!!!Sócrates se tornou um defensor da fé!!!
Livro recomendado para todo aquele que se interessa por apologética e filosofia da religião.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Quem será o primeiro?



2Jo 1.7: "Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo."


Enganadores são os que na sua prédica se comportam como cristãos com o intuito de introduzir em doses homeopáticas dúvidas a respeito da encarnação. Talvez seja uma referência aos gnósticos que conseguiram com esta dissimulação o direito de serem ouvidos em igrejas ainda novas. Os gnósticos ensinavam que havia uma incompatibilidade irreconciliável entre o espírito e a carne, o que eliminaria a possibilidade de Deus encarnar. Isto é o mesmo que negar que Jesus veio em carne. João compara este tipo de mestre ao anticristo. João nos ensina a lidar com este tipo de gente: "...aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más" (v.11).


Batalha espiritual não se resume a confrontações públicas ou privadas com demônios, inclui resistir à heresia, desmascarando-a e ensinando a sã doutrina, exigindo um profundo conhecimento da Palavra, o que demanda tempo e dedicação. Muitas das batalhas mais acirradas ocorrem exatamente na formulação das doutrinas mais básicas. Estamos demorando a admitir que muitas destas lutas já foram perdidas, pois enquanto concentramos nossa munição nos demônios falantes, o que inúmeras vezes não passa de uma distração, a sua tropa de elite penetra por portões que não estão sendo vigiados, ele faz isto introduzindo aqui e ali algumas heresias destruidoras. Destacamos aqui deturpações em áreas como a prosperidade, a maldição hereditária, a autoridade, a santificação, os títulos, a unção, o avivamento, os dons e o governo eclesiástico.


Ainda dá para reagir, mas não sem antes admitirmos humildemente que erramos, pois a soberba de quem calçou as tamancas da sabedoria precede a ruína. O primeiro passo para o tratamento de uma doença é admiti-la, Quem será o primeiro?

Texto de Ubirajara Crespo

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Filosofia prática para cristãos / Daniel Grubba


Filosofar é algo inerente ao gênero humano e em um sentido mais abrangante todos somos filósofos. Faz parte de nossa natureza investigar, perguntar, pensar acerca da vida. É por isso que uma criança, tão logo começa a se situar no mundo, inicia uma vida de questionamentos. O porque disso? O porque daquilo outro? Não estaria a criança buscando compreender o mundo que o cerca e a verdadeira realidade do mundo. Sim, todos nós desejamos entender a realidade com o qual convivemos.

É claro que em uma sociedade pós-moderna e pragmática como a nossa, a filosofia é vista como uma atividade reservada apenas para aqueles que não tem muito o que fazer, ou nada com o que se preocupar. O espírito do pragmatismo está em busca de saídas imediatas para o alívio dos problemas e das mazelas de nosso tempo. Todavia, até quem ridiculariza a filosofia precisa de um mínimo de reflexão filosófica para chegar a esta conclusão. Isto quer dizer que a questão toda não é propor uma dicotomia entre filosofia e não-filosofia, mas sim boa-filosofia ou má-filosofia. C.S. Lewis acredita que a filosofia só existe para combatermos a má filosofia.


Filosofia e o cristão


Porém, a abismo entre o homem comum e a atividade filosófica piora quando entramos no ambiente cristão moderno. Isto porque a filosofia, não importa qual, é considerada uma heresia humana. Obviamente, não faltam textos bíblicos para aumentar o prenconceito. Por exemplo, Colossenses 2.8 que diz:


Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo.


Obviamente, o contexto desta passagem trata a filosofia de maneira bem negativa, mas deve-se ressaltar que Paulo não se refere a filosofia de um modo geral, mas foca seu ataque a filosofia gnóstica da cidade de Colossos.


A finalidade da filosofia

Como disse William L. Craig, teólogo e filósofo cristão, devemos distinguir entre a necessidade e utilidade[1]. Quer dizer que, ainda que a filosofia não seja absolutamente necessária, não segue que seja inutil. Por exemplo, não preciso ser necessariamente um digitador para teclar, mas sê-lo não será inutil, pelo contrário, me ajudará bastante na tarefe de teclar.

O pr. Luiz Sayão aponta pelo menos quatro finalidades da filosofia em seu livro "Cabeças feitas"

1) Ajuda a identificar nosso sistema de valores.

2) Adquirimos mais capacidade crítica para filtrar o que nos é apresentado (Atos 17.11 e I Ts. 5.21,22)

3) Capacidade de entender nosso própria época e interpretar melhor o mundo que nos cerca (Paulo dialogando com os filósofos em Atenas é um grande exemplo - Atos 17.18-34).

4) Argumentar com maior capacidade racional em favor de nossa fé (I Pe 3.15 -apologética).

Para quem quiser iniciar seus estudos na filosofia, em seus variados temas (lógica, epistemologia, ética, estética, religião, etc) e desenvolvimento histórico, o livro de Sayão é bom guia. Trata-se de um obra introdutória e bem resumida de toda atividade filosófica na história.
[1] O argumento de Craig se refere a atividade apologética, mas é um princípio lógico que pode ser utilizado a respeito da relevância da filosofia. O argumento completo em http://despertaibereanos.blogspot.com
Soli Deo Gloria

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Doze maneiras de conhecer a Deus / Peter Kreeft


Tradução: Daniel Grubba


Peter Kreeft é professor de filosofia no Boston College e autor de muitos livros, dentre eles, Sócrates e Jesus (O Debate), e, Manual de apologética cristã, em parceria com Ronald Tacelli.


Jesus definiu a vida eterna em conhecer a Deus (Jo 17.3). Portanto, quais são os meios disponíveis para conhecermos a Deus? Quantas maneiras diferentes existem para conhecermos a Deus e deste modo a vida eterna? Vejo pelo menos 12 modos.

1) A maneira final, completa, definitiva, claro, é Cristo, o Deus encarnado.

2) A igreja é o Corpo de Cristo, então conhecemos a Deus também através da igreja.

3) Através das Escrituras Sagradas, consideradas como o “livro da igreja”. Este livro, assim como Cristo, são chamados de “A Palavra de Deus”.

4) As Escrituras também dizem que podemos conhecer a Deus na natureza conforme Romanos 1. Eu acredito que nínguem que vive junto ao mar, ou rio, pode ser um ateu.

5) As artes também revelam a Deus. Eu conheço três ex-ateus que dizem: A música de Bach existe, portanto, deve haver um Deus. Isto também é conhecimento imediato.

6) A consciência é a voz de Deus. Isto fala de absolutos morais, sem espaço para sentenças relativistas. É também imediato.

Os pontos 4 a 6 são considerados naturais, enquanto os três primeiros são sobrenaturais. Os últimos tres revelam atributos divinos, e constituiem as três coisas que o espírito humano mais deseja: verdade, beleza e bondade. Deus permeou toda sua criação com estas três coisas. Aqui estão mais 6 maneiras pelas quais podemos conhecer a Deus.

7) Podemos conhecer Deus através de bons argumentos filosóficos. Isto é, através da razão, quando refletimos sobre a natureza, arte ou consciência moral.

8) A experiência, a vida, sua história, tambem podem revelar a Deus. Você pode ver a mão da Providência lá.

9) A experiência coletiva da raça humana, como verificados na história e tradição, expressos na literatura, também revelam a Deus.

10) Os cristãos piedosos revelam a Deus. Eles são como propagandas, espelhos, pequenos Cristos. Eles são talvez a mais efetiva de todas as maneiras de convencer e converter as pessoas.

11) Nossa experiência diária de obediência a Deus tambem revela a Deus. Fica mais claro de ver a Deus quando o coração é puruficado: Bem-aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus.

12) A oração. Você aprenderá mais sobre Deus através da oração do que simplesmente passar uma vida inteira em um biblioteca.

Infelizmente muitos cristãos entram em sérias discussões sobre os variados modos de conhecer a Deus. Fazemos parte de uma família e não há nada mais tolo do que ficarmos discutindo se fossemos rivais. Por exemplo: encontrar Deus na igreja vs. encontrar Deus na natureza, ou razão vs. experiência, ou Cristo vs. arte.

Se voce nega um deste pontos acima, seria uma excelente idéia explorá-lo. Por exemplo, orando e ouvindo boa música. Ou tomando alguma hora para rever sua vida e contemplar a obra de Deus no teu passado. Leia um bom livro para adquirir um conhecimento mais profundo, busque glorificar a Deus, mas ore em primeiro quanto a isto. Existem muitas maneiras de conhecer a Deus, mais do que qualquer lista pode conter ou até mesmo o mundo inteiro.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O que você está lendo?


Este é um texto de Gerson Borges que pode te ajudar a adquirir o gosto pela leitura. Ver texto na integra aqui. / Fonte: Cristianismo Criativo


Ah, meu amigo! Muitos livros, pouco tempo. "Tolle et lege ", foi o que ouviu Agostinho do próprio Espírito Santo sobre a Bíblia ( onfira nas suas "Confissõe " ) . Ou seja, pegue e leia. Alguém disse que daqui a cinco, dez anos, seremos as mesmíssimas pessoas de hoje, a não ser pelos amigos que fizermos e pelos livros que lermos. "O que você está lendo?"


1. Estou lendo a Bíblia. Mas com outros olhos e ouvidos. Lendo Jesus. (Deveríamos ler os Evangelhos umas quatro mil vezes, para começar a entrar na mente de Cristo, para sacar sua Revolução sem precedentes: espiritual-social-política-cósmica, para imitá-lo, para seguí-lo ao invés de distorcê-lo com nosso malucos fundamentalismos e nossos neuróticos legalismos). Lendo oradamente, mais do que exegeticamente, os Salmos. Faz muita, para não dizer, toda diferença. Lendo Paulo. Esse é demais. Viu longe. Provou coisas arrebatadoras. Mas é muito mal compreendido.


2. Estou relendo alguns clássicos. Como disse Ítalo Calvino, "um classico é um texto que sempre terá algo a dizer a cada geração". Os livros do tipo "o Cânone ocidental" e "Como e por que ler", de Haroldo Bloom, "ajudam a encontrá-los, se é que eles já não o encontraram primeiro... Estou relendo, porque muitos já li (ou me leram na infância e adolescência: Homero, Mark Twain, Dumas, Machado de Assis. Gente profunda, esses caras! João Ubaldo Ribeiro disse que diariamente lê umas linhas de Shakespeare. É a sua cafeína inspirativa.


3. Estou descobrindo coisas novas. Acabei de comprar um guia da Superinteressante simplesmente bárbaro: "122 livros para entender o mundo" (Abril). Livros fundamentais sobre sociedade, cultura, religião, ciência. Não sei quem foi que disse que "quem lê só a Bíblia não lê a Bíblia". Sim, por que a Bíblia é sobre o caso de amor de Deus e o homem - relacionamentos. "Juntar Escritura com Escritura, escritura com fato ", recomenda Élben Cesar (Ultimato ), eis o trabalho do Pregador, do Exegeta. Paulo assinaria embaixo. Calvino, Lutero... profundos, extravagantes, bíblicos!


Além dessa lista exaustiva e abrangente, concordo com Ricardo Gondim: "Precisamos ler os teólogos contempoâneos, sobretudo os latino-americanos: são muito inteligentes". Boff, Gutierrez, Comblin...


Ah, ainda no quesito Teologia (que às vezes é bem esquisito, se posso - devido ao que produz a nossa literatura dita "cristã" - usar tal trocadilho besta...) : estou lendo tudo que me cai às mãos de N.T. Wright, bispo anglicano, um dos maiores especialistas no NT e em Paulo de todos os tempos. Fantástico mesmo. Brian McLaren (dele, li " A mensagem secreta de Jesus ", depois "A igreja do outro lado " e me assustei com o vigor intelectual do conteúdo e a semelhança com nossos teólogos latino-americanos - ótimo!), Rob Bell (sobretudo "Velvet Elvis", "Sex God " e "Jesus want to save christians"). Bell é um poeta, um artista disfarçado de pastor. Não que eu concorde com tudo dessa tríade, mas concordo com sua originalidade e força de pensamento e amor a Deus e ao se Reino!
...

4. Estou lendo mais poesia. Adélia Prado, a prosa-poética (se posso reduzir algo tão estupendo) de Guimarães Rosa, lendo e orando os Salmos e os Profetas em voz alta: experimente para ver. É outra coisa! É maravilhamento puro!


5. Estou relendo meus mentores espirituais. Agora não tem jeito - terei de usar uma lista:


- C.S.Lewis: "Surpreendido pela alegria " (Mundo Cristão). De vez em sempre, volto a essa preciosidade. E me surprendo com sua beleza e verdade.
- Richard Foster: todos, sobretudo "A celebração da disciplina" (Vida ). Para quem quer rever a vida espiritual, a devocionalidade.
- Eugene Peterson: todos, sobretudo a trilogia pastoral. Pastor de pastores, poeta, sábio.
- Henri Nouwen: todos, sobretudo os diários e livros sobre oração (grande maioria).
- Thomas Merton: "A montanha dos sete patamares". Um choque na minha antiga religião irrelevante.
- James Houston: os livros sobre oração e história da espiritualidade cristã.
- Bonhoeffer: todos. Tudo o que um mártir tem a dizer deve ser ouvido....


Agora, isso não quer dizer que esteja lendo tudo isso e todos ao mesmo tempo. Claro que não. Seria pretensiosa mentira. Esses são amigos que visito aqui e ali, dependendo dos ânimos do meu coração. "A cabana" (Sextante) , o romance que me foi fortuitamente apresentado por amigos dos EUA (The Shack), simplesmente a maior surpresa literário-teológica dos últimos tempos. Recomendo enfaticamente. Mais dois títulos da minha cabeceira, aguardando um noite insone para serem saboreados: "Qual a tua obra? ", do filósofo da PUC-SP, Mário Sérgio Cortella. Coisa linda. Para quem, como eu, sabe que vocação é algo bem diferente de emprego e "Estabelecer limites", do monge beneditino e psicólogo alemão Anselm Grun (Vozes), para quem, como eu, sabe que "não há prioridades, mas prioridade" (frase que o amigo Osmar Ludovico me apresentou, citando Hans Burki).

domingo, 2 de novembro de 2008

Divagações filosóficas do sentido da vida


Todos buscam um sentido na vida e mentem os que dizem não. Acredito que esta busca é inerente a todos os seres humanos. Um antigo provérbio israelita, provavelmente escrito pelo sábio rei Salomão, há pelo menos mil anos atrás, revela isto. Lá diz que “Os caminhos do coração do homem são como águas profundas”. Sem esta busca apaixonada, não haveria filosofia. Alias, não haveria nada. Não é a pergunta mais elementar aquela que questiona: Porque existe algo ao invés de nada?

A busca pelo significado da vida é custosa, leva tempo, trás desabores. Mas se não houvesse mundo, o que haveria? Nada? Agradeço ao filósofo que disse que o “nada é aquilo que as rochas sonham”. Bem, existe algo, então existe propósito. A questão é se é possível descobrir ou não. Na continuação do provérbio de Salomão, ele diz que é sábio o homem que nas profundas águas de seu ser encontra um sentido. Todavia, o sentido não pode estar dentro, deve estar fora deste ser chamado homem. Somos seres contingentes, não podemos nem mesmo determinar o lugar e dia em que nos tornamos seres reais e não podemos saber o fim. Algo maior que nós deve existir, seja o Motor Imovel de Aquino, seja o Cosmos de Carl Sagan, existimos, e devemos nossa existência a este algo. Posso ser cético o bastante para dizer que devo tudo ao acaso, mas tenho que ter fé demais para defini-lo como uma entidade real. Acaso não é algo que possamos definir ontologicamente, é como o infinito. Vago para ser sincero. Tão vago que torna a busca pelo significado totalmente nula.

Mas para defender que a vida é um absurdo sem sentido, tenho que no mínimo saber que o sentido da vida é um absurdo sem sentido, e isto é um sentido absurdo, mas não deixa de ser um sentido. Obviamente esta idéia é absurda e contraditória.

René descartes duvidou de tudo, até que duvidou tanto, que encontrou sentido. Não foi ele que disse “penso, logo existo”. Sócrates disse “só sei que nada sei”, mas ele sabia alguma coisa, que nada sabia. Isso já é um começo. E a partir deste começo, este brilhante filósofo buscou sentido na vida. Trilhar o caminho de Kant é também quase não ter certeza de nada. Mas não ter certeza de nada pressupõe conhecer alguma coisa da vida.

Quero defender que a vida precisa ter um sentido. Pois se tentar dizer que a vida não tem sentido, como os niilistas, afirmam que a vida tem sentido. Não temos como escapar. Pois se eu disser que vou viver minha vida como se não houvesse sentido para ela, estou querendo dizer que dei a ela um sentido. Então, devemos questionar se existe um sentido bom e outro contrário? Qual é o sentido bom e qual o sentido mal? Quem define? Se mais uma vez eu for irracional o suficiente que sentido bom e mal é dogmatismo religioso, implica que posso viver como eu quiser? Isto é, não faz diferença em viver como Madre Tereza ou Hitler? Ninguém pode suportar isso. Segue-se que viver como lhe apraz mostra que há um sentido na vida, mas não o revela completamente.

Soren Kierkgaard acredita que a ética trazia sentido, mas ninguém conseguia viver sem maculá-la. Certamente, viver como se a perfeição moral fosse o alvo trará frustração, viver desconsiderando que exista algo como um legislador moral acima de nos, trará libertinagem caótica. Então, deva haver algo além, um nível de vida superior, um segundo andar, como dizia Schaffer. E só passa para cima, não falo de paraíso, quem acredita na singularidade de sua própria existência. Singularidade que só pode ser atribuída a quem tem poder de diferenciar entre seres e seres. Quero dizer, sentido implica em projeto e projeto em aquele que projeta. Eu não projetei minha existência, Deus sim. Concluímos que Deus trás sentido a existência, em todos os níveis que podemos imaginar.


Daniel Grubba - Soli Deo Gloria

Jesus realmente desceu ao inferno? Daniel Grubba


Jesus realmente desceu ao inferno?

Colocamos em pauta as três principais soluções apresentadas pelos estudiosos para o problemático texto de I Pe 3.19. São propostas diferentes, porem ambas as argumentações concordam que Jesus desceu ao inferno depois de morrer. Abordamos cada uma delas e verificamos as incoerências. Mas há um problema que todas têm que enfrentar. É que a origem da frase “desceu ao inferno” não aparece em nenhum lugar da Bíblia. Mas de onde exatamente surgiu esta idéia?

O Credo Apostólico

A primeira ocorrência da expressão “desceu ao inferno” está no Credo Apostólico, que tem a expressão latina “descendit ad inferna” (desceu aos infernos/hades) e a outra se encontra no Credo de Atanásio, com a expressão latina “descendit ad inferos” (desceu às regiões inferiores). O texto final do Credo Apostólico faz uma bela declaração de fé:

Creio em Deus, o Pai onipotente, Criador do Céu e da Terra. E em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor, o qual foi concebido do Espírito Santo, nascei da Virgem Maria, padeceu sob Poncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos, no terceiro dia ressussitou dos mortos, subiu aos céus, este sentado a destra de Deus, o Pai onipotente, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.

Sobre o desenvolvimento histórico do Credo Apostólico, Wayne Grudem diz que “foi surpreendente descobrir que a frase desceu ao inferno não se encontrava em nenhuma das versões primitivas do credo até que ela apareceu um uma versão de Rufino em 390 d.C., o único a incluí-la antes de 650 d.C”. Já que não é uma doutrina bíblica, Heber Campos afirma que devemos rejeitar as várias idéias relacionadas como a “decida literal de Jesus ao hades”.

Interpretação mais equilibrada

Ao rejeitarmos as idéias apresentadas anteriormente, somos forçados automaticamente a sugerir alguma outra interpretação mais coerente, porém com os mesmos critérios de avaliação. Vamos propor, na verdade, duas interpretações diferentes, mas que não são contraditórias entre si, pois entendemos que ambas podem ser usadas como propostas válidas e mais confiáveis biblicamente falando.

Interpretação reformada

O entendimento dos teólogos reformados com respeito a eventual descida de Jesus ao hades é bem diferente da de muitos cristãos, principalmente dos estudiosos citados neste trabalho. Esta interpretação está na verdade baseada na proposta do reformador de Genebra, João Calvino (1509-1564). Ele sustentou que “a descida ao hades foi a experiência das dores do inferno na alma de Jesus, enquanto seu corpo estava ainda pendurado na cruz, especialmente a experiência da ira divina contra o pecado, que ele suportou no lugar dos seres humanos”. Para Calvino, a alma de Cristo tinha de sentir todos os efeitos do juízo pois se alma dele não tivesse sido afetada pelo castigo, seria somente salvação de corpos. Erwin Lutzer corrobora com esta idéia, principalmente quando se analisa com profundidade o significado do brado de Cristo, enquanto pendurado na cruz em meio às trevas (Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? (Mt 27.46). Ele diz:

Jesus certamente suportou o sofrimento do inferno, pois o inferno é escuridão, é desamparo, é ser abandonado por Deus, e se foi assim, o horror do que ele experimentou está além de nossa compreensão.

Heber Carlos de Campos, escritor reformado, conclui dizendo que “Jesus nunca desceu ao hades de literal e espacialmente, mas experimentou intensivamente todas as coisas que o hades representa”.

Interpretação analógica

A explicação da interpretação tipológica não chega a contradizer a interpretação reformada, mas dá ao texto I Pe 3.19-20 um enfoque diferente, todavia ambos concordam que Cristo não desceu ao inferno literalmente. Segundo Wayne Grudem, esta explicação é a mais satisfatória de I Pe 3.19-20 e remonta Agostinho que já dizia: a passagem não se refere a algo que Cristo fez entre sua morte e ressurreição, mas ao que “fez no âmbito espiritual da existência” (ou pelo Espírito) nos dias de Noé. Isto quer dizer que quando Noé estava construindo a arca, Cristo, “em espírito” estava pregando por meio de Noé aos incrédulos hostis em torno dele.


Esta concepção, não é tão popular, mas é digna de alta consideração. Não é tão mitologia quanto as anteriores (exceto a interpretação reformada), não se baseia em doutrinas humanas (Credo Apostólico) e tem apoio bíblico considerável. Por exemplo, em I Pe 1.11, ele diz que o “Espírito de Cristo” falava por intermédio dos profetas do Antigo Testamento. Em 2 Pe 2.5, ele chama Noé de “pregador da justiça”, empregando o substantivo keryx que vem da mesma raiz do verbo pregar de I Pe 3.19. Tudo isso nos leva a concluir que Cristo “pregou aos espíritos em prisão” por intermédio de Noé nos dias anteriores ao dilúvio. Esta idéia levanta um problema, pois eruditos em grego, afirmam que a Bíblia nunca usa “espírito” em referencia aos humanos. Como responder a isto?

As pessoas a quem Cristo pregou por meio de Noé eram incrédulos sobre a terra na época de Noé, mas Pedro os chama “espírito em prisão” porque estão agora na prisão no inferno (A NASB diz que Cristo pregou “aos espíritos agora em prisão) [...] Assim, Cristo pregou aos espíritos em prisão significa: cristo pregou as pessoas que são agora espírito em prisão, quando ainda eram pessoas sobre a terra.

Um outro conjunto de versículos em Pedro apóia está interpretação, de acordo com o contexto maior de I Pe 1.13-22. Neste contexto geral, Pedro parece fazer uma analogia interessante entre a situação de Noé e a situação de seus leitores. O confronto entre estas épocas distintas revela que ambos faziam parte de minoria justa, rodeados por incrédulos hostis, aguardavam o iminente juízo de Deus (I Pe 4.5-7; II Pe 3.10), deviam pregar com ousadia (I Pe 3.14, 16-17; 3.15; 4.11) e eram salvos ou seriam salvos (I Pe 3.13-14; 4.13; 5.10).

Conclusão

A pergunta que não quer calar agora pode ser respondida. Jesus desceu ao inferno? A resposta é não. Verificamos que há muitos problemas em adotar esta concepção e o testemunho do restante da bíblia não o apóia definitivamente. Como afirma Wayne Grudem, é no mínimo confusa e, na maior parte dos casos, enganosa para os cristãos de hoje.


Post dos artigos anteriores. Jesus desceu ao inferno? parte 1,2 e 3.

Soli Deo Gloria
Daniel Grubba