terça-feira, 11 de novembro de 2008

Filosofia prática para cristãos / Daniel Grubba


Filosofar é algo inerente ao gênero humano e em um sentido mais abrangante todos somos filósofos. Faz parte de nossa natureza investigar, perguntar, pensar acerca da vida. É por isso que uma criança, tão logo começa a se situar no mundo, inicia uma vida de questionamentos. O porque disso? O porque daquilo outro? Não estaria a criança buscando compreender o mundo que o cerca e a verdadeira realidade do mundo. Sim, todos nós desejamos entender a realidade com o qual convivemos.

É claro que em uma sociedade pós-moderna e pragmática como a nossa, a filosofia é vista como uma atividade reservada apenas para aqueles que não tem muito o que fazer, ou nada com o que se preocupar. O espírito do pragmatismo está em busca de saídas imediatas para o alívio dos problemas e das mazelas de nosso tempo. Todavia, até quem ridiculariza a filosofia precisa de um mínimo de reflexão filosófica para chegar a esta conclusão. Isto quer dizer que a questão toda não é propor uma dicotomia entre filosofia e não-filosofia, mas sim boa-filosofia ou má-filosofia. C.S. Lewis acredita que a filosofia só existe para combatermos a má filosofia.


Filosofia e o cristão


Porém, a abismo entre o homem comum e a atividade filosófica piora quando entramos no ambiente cristão moderno. Isto porque a filosofia, não importa qual, é considerada uma heresia humana. Obviamente, não faltam textos bíblicos para aumentar o prenconceito. Por exemplo, Colossenses 2.8 que diz:


Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo.


Obviamente, o contexto desta passagem trata a filosofia de maneira bem negativa, mas deve-se ressaltar que Paulo não se refere a filosofia de um modo geral, mas foca seu ataque a filosofia gnóstica da cidade de Colossos.


A finalidade da filosofia

Como disse William L. Craig, teólogo e filósofo cristão, devemos distinguir entre a necessidade e utilidade[1]. Quer dizer que, ainda que a filosofia não seja absolutamente necessária, não segue que seja inutil. Por exemplo, não preciso ser necessariamente um digitador para teclar, mas sê-lo não será inutil, pelo contrário, me ajudará bastante na tarefe de teclar.

O pr. Luiz Sayão aponta pelo menos quatro finalidades da filosofia em seu livro "Cabeças feitas"

1) Ajuda a identificar nosso sistema de valores.

2) Adquirimos mais capacidade crítica para filtrar o que nos é apresentado (Atos 17.11 e I Ts. 5.21,22)

3) Capacidade de entender nosso própria época e interpretar melhor o mundo que nos cerca (Paulo dialogando com os filósofos em Atenas é um grande exemplo - Atos 17.18-34).

4) Argumentar com maior capacidade racional em favor de nossa fé (I Pe 3.15 -apologética).

Para quem quiser iniciar seus estudos na filosofia, em seus variados temas (lógica, epistemologia, ética, estética, religião, etc) e desenvolvimento histórico, o livro de Sayão é bom guia. Trata-se de um obra introdutória e bem resumida de toda atividade filosófica na história.
[1] O argumento de Craig se refere a atividade apologética, mas é um princípio lógico que pode ser utilizado a respeito da relevância da filosofia. O argumento completo em http://despertaibereanos.blogspot.com
Soli Deo Gloria

2 comentários:

cincosolas disse...

Daniel,

Acredito que a dificuldade que nós encontramos é não sabermos quando a filosofia termina e a teologia começa. Eu mesmo tenho essa dificuldade.

Por exemplo, eu costumo associar filosofia com a revelação geral, portanto, filosofia e teologia natural se confundem.

Já teologia envolve, além da teologia natural, a revelação especial. Isso significa que a teologia engloba a filosofia. Em outras palavras, todo teólogo é um filósofo, mas nem todo filósofo é um teólogo.

Estou certo nessa forma de pensar?

Em Cristo,

Clóvis

Daniel Grubba disse...

Oi Clóvis,
Obrigado por comentar aqui.

Segue algumas considerações minhas.

- "...a dificuldade que nós encontramos é não sabermos quando a filosofia termina e a teologia começa".

De fato, como não são ciências díspares, é natural que nos confundamos em meio as similaridades e distinções. Portanto, acredito que devemos tomar dois cuidados, tendo sempre em vista o equílibrio.

1) Não negligenciar a filosofia.

Justino Martir questionou: O que Jerusalem (teologia) tem haver com Atenas (filosofia)?

A filosofia sempre foi considerada, mais precisamente desde tempos de Santo Agostinho, como serva da teologia. Ele e Tomás de Aquino são um bom exemplo de uso adequado da filosofia.

2) A absolutização da filosofia.

Isto é, acreditar que a razão é suficiente para revelar toda a realidade, tanto física quanto metafísica. Se isto fosse verdade, não precisariamos da revelação divina por meio das escrituras, uma vez que a razão exerceria este papel. Por isso, devemos lembrar que somos seres finitos e nosso conhecimento é limitado.

-...eu costumo associar filosofia com a revelação geral, portanto, filosofia e teologia natural se confundem.

Realmente, algumas das investigações filosóficas (visto que são muitas) abordam as mesmas realidades que a teologia natural. Isto é, cosmologia (revelação de Deus na natureza) e ética (revelação de Deus na consciência humana).

Você perguntou: Estou certo nessa forma de pensar?

Eu acredito que sim. Somente devemos lembrar que a filosofia não aborda apenas o conhecimento revelado pela teologia natural. A filosofia vai um pouco além disso. Temos na filosofia as questões da lógica, epistemologia, linguagem, estética, etc.

Abçs,
Daniel

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