segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um toque da graça



Constantemente somos assaltados pelo sentimento da impotência e fracasso espiritual. E neste ano de 2008 parece ter sido esta única realidade que andou comigo dia após dia. Aprendi de maneira dura que nada mais é, do que uma presunção narcisista que carregava comigo. Ou seja, o desejo de conquistar a aprovação de Deus através de meus esforços. Ficando a desejar, pensei na possiblidade de reprovação divina. Que angústia!


Todavia, um bálsamo do céu veio sobre mim, enquanto lia o livro de Brennan Manning, "O Evangelho Maltrapilho". Leitura altamente recomendada. Segue abaixo um trecho muito especial:


A oração do pobre em espírito pode ser uma única palavra: Abba (Pai). Ainda assim essa palavra pode representar interação dinâmica. Imagine uma criança pequena tentando ajudar o pai em algum trabalho doméstico, ou preparando um presente para sua mãe. A ajuda pode não ser nada além de ficar no caminho, e o presente poder ser completamente inútil, mas o amor por trás dele é simples e puro, e a resposta amoroso que ele evoca é virtualmente incontrolável. Estou convicto de que a coisa é assim entre nós e Abba. [...] Nosso desejo sincero conta muito mais que qualquer sucesso ou fracasso específico. Assim, quando tentamos orar e não conseguimos, ou quando falhamos numa tentativa sincera de demonstrar compaixão, Deus nos toca ternamente, retribuindo-nos. Nesse sentido, não existe oração ruim.


Enquanto lia este texto fui profundamente tocado por Deus. Não recebi visita angelical, não orei em línguas, não tive visões espirituais, apenas uma brisa suave em minha alma; um toque da graça na mais profunda realidade do meu ser. Fui invadido pela poderosa convicção de que fui aceito por Deus e nada fiz por merecer.
leiam este livro.
Sola Gratia

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O cristão e as festas


Fui questionado por uma pessoa se era correto um cristão ir na festa de fim de ano da empresa. Eis meu ponto de vista.


Quanto a sua pergunta "Será que eu como uma líder, agi certo?" a única maneira de responder a sua pergunta é fazendo referência ao modo operacional de Jesus. Ou seja, o que Jesus faria em teu lugar? Será que Jesus iria em uma festa da empresa? Poderemos descobrir estas respostas olhando para os evangelhos com imparcialidade e constatar a intensa vida social de Jesus. Vejamos apenas bem poucas referências:


-Jesus foi a uma festa de casamento em Caná (João 2).


-Jesus é descrito exaustivamente por todos os evangelistas como companheiro de pecadores e publicanos (considerados os traidores da pátrica e amigos de Roma).


E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores, e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos." (Mateus 9 : 10).


Devemos ter em mente que Jesus era completamente possuído pelo incomensurável amor de Deus. E tudo que fazia, somente fazia porque tinha a amor como fundamento de suas ações, até mesmo ir a cruz por nós. Tendo esta perspectiva, como o fruto do evangelho da graça de Deus (Atos 20.24), observo que até mesmo quando Jesus foi ao Templo e chicoteou a hipocrisa reinante, assim o fez por amor aos pecadores.


Mas onde estão os pecadores? Onde estão os justos? - Na ótica de Jesus, havia mais sinceridade entre os pecadores miseráveis, do que entre os religiosos de sua época. Religiosos eram aqueles que se auto-intitulavam "justos" e depreciavam aqueles que não faziam parte de seu grupinho, os excluídos do templo de Jerusalem, conhecidos pelos pretensos santos, de pecadores - (veja oração do publicano e do fariseus em Lucas 18.10 em diante). Sabe irmã, vejo que não mudou muita coisa. Os fariseus de hoje estão nos púlpitos, ministérios e nas bancos das igrejas, acreditam de todo coração que são justos por causa de seus atos piedosos e tem a presunçosa convicção de quem não precisam de cura;


Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." (Mateus 9 : 13)


Neste caso, vejo que existe mais sinceridade nos bares, nas festas e nas esquinas da vida. São pessoas que precisam de ajuda, e sabem que são doentes. Querem encontrar sentido para suas misérias existências, mas não encontram nada a não ser omissão por parte daqueles que deveriam fazer o que Jesus fez: dar atenção a eles! Hoje, nos somos os levitas e sacerdotes que passam pelo caído e não o ajudam a levantar.


E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele.


Por estas razões descritas acima, Jesus era uma aberração social e um verdadeiro escândalo para a casta farisaica. Isto porque, eles nunca entrariam na casa de um publicano, nunca se sentariam a mesa com um pecador, nunca comprimentariam uma mulher e muito menos ser companheiros delas como Jesus era de fato. Resumindo, eles nunca se assentariam com alguem desta classe. Todavia, Jesus não era legalista, era livre para amar incondicionalmente, não tinha sua vida pautada pela instituição religiosa da época e pelos padrões culturais vigentes, mas somente fazia o que o Pai mandava. Ele era apaixonado pelas vidas. E o fato dele não se preocupar com a opinião dos religiosos, os irritava demais ao ponto de pedirem sua morte na cruz. Isto sem falar dos leprosos, das mulheres menstruadas, considerados como seres mais indignos que os cachorros abandonados, pessoas que Jesus amou até o fim.


"E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?" (Marcos 2 : 16).


Portanto, sem fazer nenhuma crítica a sua decisão de não ir, acredito que Jesus não teria nenhum problema em ir na festa da empresa.




  • Voce escreveu: Na minha opinião o Espírito Santo não entra com essa pessoa nessa festa! Ou será que entra? Que comunhão tem a luz com as trevas??????!!!!!! Não é isso o que diz a palavra?

Eu responderia em Sl. 139.8-11 - Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim.


Salmo 23.4 - Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo.


O Espírito Santo é nosso selo e a luz prevalece sobre as trevas. A encarnação de Jesus é a maior exemplo. Jesus entrou neste mundo caído, se revestiu de humanidade, sofreu tentações e todas intempéries da vida humana. Além do que, o texto de Paulo que você citou se refere a cristãos que iam as casas dos deuses pagãos para se prostituirem. Acredito que estes líderes que você mencionou não foram a esta festa para praticar tais coisas. E se o Espírito Santo sair de nós todas vezes que entrarmos em algum ambiente pagão, o único local seguro para ficar seria a igreja. Esta visão é bem limitada e não é de modo algum pertinente ao evangelho. Como já disse, Jesus rompeu com esta estrutura de pensamento. Ex: Jesus foi para Galiléia, em Gadara, entrou em um cemitério e expulsou a legião para os porcos (na cultura judaica isto seria o cúmulo da impureza: cemitério, porcos, demônios, etc).




  • Voce também escreveu: Adultério, concupiscência da carne, lascívia, palavrão, bebida, briga, bebida, droga, jezabel, enfim, nada de bom.

Não precisa ir a a festa da empresa. Infelizmente estas coisas, por mais constrangedor que seja, acontece nas igrejas. Por isso a referência de Paulo é que nós não podemos simplesmente não ter contato com estas coisas, a não ser se sairmos deste mundo.


Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. I Corintios 5.9-10.


Paulo explica quem são estes que se prostituem na continuação do texto:


Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro?


Pasme! São os que estão dentro da igreja! Agora, existe duas situações. Tem gente que por motivo de consciência pode ir, outras não. Por exemplo, nao é bom que a Fulana vá, devido ao passado com drogas, ou talvez por prudência um novo convertido não deva ir também. Em Cristo, vôce tem a liberdade de não ir, e outros tem a liberdade de ir, outras não devem ir por motivos de fraqueza espiritual. Nós somos livres em Cristo, a Lei ficou no passado.


No seu caso, pode ser que não ir, seja um péssimo testemunho para aqueles que você deseja conquistar para Cristo. Até porque, a verdadeira transgressao não está no ambiente das festas, mas estão alojadas no coração, e podem estar no coração daqueles que frequentam igrejas de domingo a domingo, não é verdade? Por isso acredito que aquele que vai a festa não deve julguar aquele que não vai, e o que não vai não julgue o que vai. Pois quem não vai, deve não ir para o Senhor e quem vai deve ir para o Senhor, uma vez que tudo que fazemos deve ser feito para gloria de Deus.


E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens Col.3.17


Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. Romanos 14.5-6


Não se sinta culpada de não ter ido. Porque sei que você fez com intenção de agradar a Deus. Portanto, o mais correto é você não declarar que os que foram não estão agradando-O, pois como podemos saber se eles foram com um propósito divino? Eu mesmo irei em uma confraternização, e me assentarei na mesa com os pecadores como Jesus fazia. Claro, mantendo minhas convicções firmes, e orando para que Deus dê a oportunidade de pregar, seja com atitudes ou palavras. E tenho a convicção de que o Espírito Santo estará comigo.


Sei que fui bastante explícito, mas espero ter ajudado. Minha sincera oração é que você compreenda a profundidade do evangelho da graça de Deus e seja um verdadeiro instrumento na mão de Deus, como já tem sido.


Em Cristo, nAquele que se sentou na mesa da minha vida,


Daniel


Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. - Jesus de Nazaré.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Futebol filosófico (Grécia vs. Alemanha)

sábado, 13 de dezembro de 2008

A eternidade no coração dos homens (Ec. 3.11)

Dois comentários acerca deste bela canção de Marisa Monte.

1) Deus colocou a eternidade no coração dos homens conforme o texto de Eclesiastes 3.11. No mais profundo ser de todos nós, e em todos os seres, existe o anseio pelo "belo infindável".

Assim diz o texto do pregador de Eclesiastes: "Tudo fez formoso em seu tempo, também pôs na mente do homem a idéia da eternidade".

2) A verdade é a verdade, não importa quem seja seu portador. No meio evangélico, existe uma idéia dualista zoroástrica, de que a música secular é impia e inspirada por Satanaz. Acredito que esta poesia seja a defesa de que o sentimento humano não é inerentemente mal, senão para aquele que vê o mal em tudo, para os moralistas da religião, que nada conhecem sobre a graça comum de Deus.

Soli Deo Gloria

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Você foi feito para pensar!


Prevalece em nossos dias, principalmente dentro das igrejas mais carismáticas, um absoluto espírito de anti-intelectualismo. Não falo de um demônio burro e ignorante quando me refiro a espírito, mas discorro sobre um conceito filosófico que permeia a praxis cristã da grande maioria daqueles que frequentam as igrejas.


Obviamente seria demasiadamente longo buscar a raiz história deste conceito e os malefícios causados, mas podemos apontar o séc. XIX como o momento em que se lançou as bases da dicotomia entre a fé e a razão no seio do cristianismo, e devemos isto principalmente ao metodista Peter Cartwright [1].


Algumas características deste movimento e deste zeitgeist (espírito do tempo em alemão).


1- Um movimento tendenciosamente misticista.
2- Afastamento da revelação objetiva de Deus.
3- Oposição a teologia e ao conhecimento humano.
4- Abandono ao raciocínio e aos processos de cognição.
5- Pragmatismo e a busca por resultados através de métodos duvidosos.


Gostaria de deixar um conselho de Charles Finney (1792-1875), teólogo e filosofo americano.


"Meu irmão, irmã, amigo: leia, estude, pense e leia novamente. Você foi feito para pensar. Far-lhe-á pensar; desenvolver suas capacidades pelo estudo. Deus determinou que a religião exigisse pensar, pensar intenso, e desenvolvesse nossa capacidade de pensamento. A própria Bíblia é escrita em estilo tão condensado para exigir o mais intenso estudo".


[1] mais informações no livro "Pentecostal de coração e mente - um chamado ao dom divino do intelecto" / Rick Nañez


Soli Deo Gloria

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Um homem no buraco

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Jesus, saduceus e apologética


Qualquer leitor atento do Novo Testamento percebe que Jesus era constantemente assediado com questionamentos capciosos, que tinham muitas vezes, o propósito de fazê-lo cair em algum tipo de contradição. Bastar lermos o capítulo inteiro de Mateus 22 e veremos a exemplificação desta particularidade e a necessidade do ministério apologético de Jesus. Somente neste texto Jesus é encurralado por três vezes. Primeiro pelos discipulos dos fariseus e herodianos, depois os saduceus e por fim, um doutor da lei. São três ataques sistemáticos que visavam enfraquecer a doutrina de Jesus. Eis abaixo apenas um deles;


Então os fariseus se retiraram e consultaram entre si como o apanhariam em alguma palavra e enviaram-lhe os seus discípulos, juntamente com os herodianos, a dizer; Mestre, sabemos que és verdadeiro, e que ensinas segundo a verdade o caminho de Deus, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens. Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar tributo a César, ou não? Jesus, porém, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas? (Mt 22.15-18)


A verdade é que Jesus chamava a atenção, Ele tinha uma autoridade incomum (Mc. 1.22). Certamente alguém que diz ser o divino Filho de Deus, já deveria esperar por isso. Ou seria questionado quanto a veracidade desta auto-afirmação ou questionado quanto a melhor maneira de se relacionar com esta verdade. E foi questionado sob ambas perspectivas. Ora perguntavam os céticos: De onde vem sua a autoridade? Outrora perguntavam os contritos: Para onde irei se só tus tens palavras de vida eterna?



Os saduceus



Os saduceus faziam parte de um selecto grupo político-religioso da época, e não deixaram de questionar Jesus. Como não acreditavam na ressurreição dos mortos, obviamente estranharam o ensino de Jesus. Uma vez que a promessa basilar de Jesus era a ressurreição, e Ele mesmo exclamou "Eu sou a ressurreição e a vida", segui-lo seria incompatibilidade absoluta de crenças. Mas o problema não parava por ai, deixá-lo pregar com liberdade implicava em um crescente descrédito da doutrina anti-ressurreição dos saduceus. Foi assim que os saduceus foram atacar a doutrina de Jesus com uma perspicácia feroz. Assim está registrado o ataque:


No mesmo dia vieram alguns saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, dizendo: Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, seu irmão casará com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. Ora, havia entre nós sete irmãos: o primeiro, tendo casado, morreu: e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão; da mesma sorte também o segundo, o terceiro, até o sétimo. depois de todos, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será ela esposa, pois todos a tiveram?

Apologética defensiva e ofensiva
De acordo com os principais apologistas, a apologética pode ser dividida a grosso modo em dois tipos: apologética ofensiva (ou de afirmação) e apologética defensiva (ou de negação). Isto quer dizer que a apologética apresenta argumentos positivos para as verdades proposicionais e, de outro, refuta as objeções suscitadas contra essas mesmas verdades.


É interessante ver Jesus usando as duas táticas apologéticas para aniquilar o ataque do Saduceus e deste modo defender a veracidada da doutrina da ressurreição.

1) apologética defensiva

Jesus responde ao ataque dizendo que os ressurretos sao como anjos no céu. Anjos não tem sexo. Logo, a retórica da pergunta dos saduceus é ridicularizada por Jesus como desprovida de qualquer sentido racional. Jesus não se importou em mostrar que esta pergunta era um solvente que se auto-destruia.

2) apologética ofensiva


Jesus defendeu e agora passa a atacar a cosmovisão dos saduceus, argumentando em favor da ressurreição, usando um texto do Pentateuco. E porque não usou Isaias 26.19 ou Daniel 12.2 que são tão claros em defender a ressurreição? A resposta é que os saduceus aceitavam como autoridade divina apenas o pentateuco, não os demais livros do AT e muito menos a tradição rabínica (aqui reside uma das diferenças entre saduceus e fariseus). Portanto, não faria sentido Jesus usar um texto que eles não consideravam como fonte de autoridade.


Jesus diz que Deus se apresentou a Moises como o Deus dos patriarcas. Ora, se Yahweh se diz ser o Deus deles, é porque eles ainda vivem, não importa em que realidade. Se não estivessem vivos, não importa em que realidade, ou se nao existissem mais, nao faria nenhum sentido Yahweh se apresentar como o Deus deles. De acordo com a retórica de Jesus, a doutrina dos saduceus só haveria sentido apenas se Deus tivesse dito: Eu fui o Deus de seus pais e não sou mais uma vez que eles deixaram de existir quando morreram.



Conclusão do debate de Jesus em Mateus 22?


-E as multidões, ouvindo isso, se maravilhavam da sua doutrina. v.33.

- Fez emudecer os saduceus. v.34.

- E ninguém podia responder-lhe palavra; nem desde aquele dia jamais ousou alguém interrogá-lo. v.46


Como podemos ver, Jesus se mostrou um hábil apologista. Por isto atente-se ao que diz em I Pe 3.15 e ore a Deus por estratégias para que você possa defender sua fé quando atacada e atacar quando necessário.

Elogio da Loucura / Erasmo de Rotterdam

Após um semestre lendo muitos teólogos, filósofos e suas teorias, achei que deveria ler alguma coisa que conferisse ao meu ser um pouco mais de paixão, um pouco mais de loucura. Então, começei a ler a obra do humanista e teólogo Erasmo de Rotterdam (1469-1536), Elogia do Loucura. Que leitura agradável!!!


Acredito que este livro é um santo remédio para todos os que buscam um pouco de equílibrio, para aqueles que sabem que não são meras máquinas pensantes abstratas, para os que ainda carregam paixôes e loucuras, para os que tentaram colocar o céu dentro da cabeça e não suportaram a pressão da infinutude (parafraseando Chesterton), enfim...é um clássico que deve ser lido, reelido e degustado.


No livro de Erasmo quem fala em primeira pessoa é a locura (semelhante alguns textos em Provérbios que mostra a personificação da sabedoria). Portanto, a loucura critica com um sagaz tom de ironia (chega a ser muito engraçado), os fílosofos, racionalistas, papas, reis, e os que se julgam sábios e na verdade são loucos, afinal quem não tem um pouco de loucura?

Não tem como não lembrar da crítica de Jesus aos fariseus. Seriam os filósofos, os fariseus da época de Erasmo? Para Erasmo, "só a loucura leva os homens a verdadeira sabedoria", isto porque o filósofo especula, o louco se entrega. Erasmo questiona: Como viver sem paixão? Os que vivem sem paixão, apenas guiados pela razão, vivem no mundo imaginário de Platão e não neste mundo real. Eles na verdade, acreditam que não são loucos, mas são os maiores de todos os loucos.


Vale lembrar que o "Elogio da Loucura" foi um agente poderoso de influência na vida de Lutero e consequentemente um dos catalisadores da Reforma protestante. É um livro indispensável para todos aqueles que desejam ser pensadores apaixonados e por que não dizer, loucos?

Sócrates e Jesus: O debate


Peter Kreeft teve uma bela inspiração ao compor neste livro uma representação pictórica da razão em busca da verdade. Segundo o autor, a inspiração do livro surgiu em virtude de duas leituras em especial; o primeiro capítulo de Migalhas filosóficas de ;Soren Kierkegaard, onde o teólogo e filósofo dinamarquês faz um comparativo entre a doutrina de Sócrates e a doutrina de Jesus; e a segunda leitura foi Atos 17.15-34, que mostra o apóstolo Paulo discutindo com os filósofos de Atenas.

Para Peter Kreeft "a razão humana, embora decaída, é projetada por Deus. Não há nada de errado com essa espada, apenas a forma como a empunhamos, tendo em vista que foi moldada no céu...esse Deus que não se contradiz nos deu dois detectores da verdade, a fé e razão; conclui-se que a fé e a razão, se empregadas corretamente, nunca se contradizem".

Peter Kreeft foi ousado ao colocar Sócrates em pleno séc.xx na Universidade de Havard, especificamente no curso de teologia. Imagina só...Sócrates discutindo com os pluralistas, relativistas, liberalistas e os enchendo de perguntas desconcertantes, todas elas permeadas com a imutável lei da não-contradição. É claro, por questões obvias, que as discussões não refletem a totalidade do pensamento Sócrates, mas apenas o método desenvolvido por ele (método socrático). Alguns temas abordados pelo autor do livro, são:

1. o pseudo-progresso da raça humana.
2. Fundamentalismo e cristianismo. Segundo o método socrático, toda verdade é fundamentalista, pois ela exclui automaticamente o que é contrária a ela.
3. Uma discussão sobre milagres e a possibilidade racional de sua existência.
4. Relativismo e pluralismo. Neste caso, o método socrático expõe a irracionalidade do pensamento de nosso tempo e suas contradições.
5. O conceito socrático de Deus em comparação com o AT. (Sócrates leu o AT e mudou seus conceitos...Kreeft foi genial...)
6. O pessoa de Jesus e sua singularidade (Sócrates também leu o NT e se encantou com a pessoa de Jesus).
7. A ressurreição como fato histórico.
Bom, no fim do livro Sócrates está completamente comprometido com a verdade do evangelho e destruindo o frágil fundamento da "fé liberalista" dos professores de Harvard. Demais!!!Sócrates se tornou um defensor da fé!!!
Livro recomendado para todo aquele que se interessa por apologética e filosofia da religião.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Quem será o primeiro?



2Jo 1.7: "Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo."


Enganadores são os que na sua prédica se comportam como cristãos com o intuito de introduzir em doses homeopáticas dúvidas a respeito da encarnação. Talvez seja uma referência aos gnósticos que conseguiram com esta dissimulação o direito de serem ouvidos em igrejas ainda novas. Os gnósticos ensinavam que havia uma incompatibilidade irreconciliável entre o espírito e a carne, o que eliminaria a possibilidade de Deus encarnar. Isto é o mesmo que negar que Jesus veio em carne. João compara este tipo de mestre ao anticristo. João nos ensina a lidar com este tipo de gente: "...aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más" (v.11).


Batalha espiritual não se resume a confrontações públicas ou privadas com demônios, inclui resistir à heresia, desmascarando-a e ensinando a sã doutrina, exigindo um profundo conhecimento da Palavra, o que demanda tempo e dedicação. Muitas das batalhas mais acirradas ocorrem exatamente na formulação das doutrinas mais básicas. Estamos demorando a admitir que muitas destas lutas já foram perdidas, pois enquanto concentramos nossa munição nos demônios falantes, o que inúmeras vezes não passa de uma distração, a sua tropa de elite penetra por portões que não estão sendo vigiados, ele faz isto introduzindo aqui e ali algumas heresias destruidoras. Destacamos aqui deturpações em áreas como a prosperidade, a maldição hereditária, a autoridade, a santificação, os títulos, a unção, o avivamento, os dons e o governo eclesiástico.


Ainda dá para reagir, mas não sem antes admitirmos humildemente que erramos, pois a soberba de quem calçou as tamancas da sabedoria precede a ruína. O primeiro passo para o tratamento de uma doença é admiti-la, Quem será o primeiro?

Texto de Ubirajara Crespo

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Filosofia prática para cristãos / Daniel Grubba


Filosofar é algo inerente ao gênero humano e em um sentido mais abrangante todos somos filósofos. Faz parte de nossa natureza investigar, perguntar, pensar acerca da vida. É por isso que uma criança, tão logo começa a se situar no mundo, inicia uma vida de questionamentos. O porque disso? O porque daquilo outro? Não estaria a criança buscando compreender o mundo que o cerca e a verdadeira realidade do mundo. Sim, todos nós desejamos entender a realidade com o qual convivemos.

É claro que em uma sociedade pós-moderna e pragmática como a nossa, a filosofia é vista como uma atividade reservada apenas para aqueles que não tem muito o que fazer, ou nada com o que se preocupar. O espírito do pragmatismo está em busca de saídas imediatas para o alívio dos problemas e das mazelas de nosso tempo. Todavia, até quem ridiculariza a filosofia precisa de um mínimo de reflexão filosófica para chegar a esta conclusão. Isto quer dizer que a questão toda não é propor uma dicotomia entre filosofia e não-filosofia, mas sim boa-filosofia ou má-filosofia. C.S. Lewis acredita que a filosofia só existe para combatermos a má filosofia.


Filosofia e o cristão


Porém, a abismo entre o homem comum e a atividade filosófica piora quando entramos no ambiente cristão moderno. Isto porque a filosofia, não importa qual, é considerada uma heresia humana. Obviamente, não faltam textos bíblicos para aumentar o prenconceito. Por exemplo, Colossenses 2.8 que diz:


Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo.


Obviamente, o contexto desta passagem trata a filosofia de maneira bem negativa, mas deve-se ressaltar que Paulo não se refere a filosofia de um modo geral, mas foca seu ataque a filosofia gnóstica da cidade de Colossos.


A finalidade da filosofia

Como disse William L. Craig, teólogo e filósofo cristão, devemos distinguir entre a necessidade e utilidade[1]. Quer dizer que, ainda que a filosofia não seja absolutamente necessária, não segue que seja inutil. Por exemplo, não preciso ser necessariamente um digitador para teclar, mas sê-lo não será inutil, pelo contrário, me ajudará bastante na tarefe de teclar.

O pr. Luiz Sayão aponta pelo menos quatro finalidades da filosofia em seu livro "Cabeças feitas"

1) Ajuda a identificar nosso sistema de valores.

2) Adquirimos mais capacidade crítica para filtrar o que nos é apresentado (Atos 17.11 e I Ts. 5.21,22)

3) Capacidade de entender nosso própria época e interpretar melhor o mundo que nos cerca (Paulo dialogando com os filósofos em Atenas é um grande exemplo - Atos 17.18-34).

4) Argumentar com maior capacidade racional em favor de nossa fé (I Pe 3.15 -apologética).

Para quem quiser iniciar seus estudos na filosofia, em seus variados temas (lógica, epistemologia, ética, estética, religião, etc) e desenvolvimento histórico, o livro de Sayão é bom guia. Trata-se de um obra introdutória e bem resumida de toda atividade filosófica na história.
[1] O argumento de Craig se refere a atividade apologética, mas é um princípio lógico que pode ser utilizado a respeito da relevância da filosofia. O argumento completo em http://despertaibereanos.blogspot.com
Soli Deo Gloria

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Doze maneiras de conhecer a Deus / Peter Kreeft


Tradução: Daniel Grubba


Peter Kreeft é professor de filosofia no Boston College e autor de muitos livros, dentre eles, Sócrates e Jesus (O Debate), e, Manual de apologética cristã, em parceria com Ronald Tacelli.


Jesus definiu a vida eterna em conhecer a Deus (Jo 17.3). Portanto, quais são os meios disponíveis para conhecermos a Deus? Quantas maneiras diferentes existem para conhecermos a Deus e deste modo a vida eterna? Vejo pelo menos 12 modos.

1) A maneira final, completa, definitiva, claro, é Cristo, o Deus encarnado.

2) A igreja é o Corpo de Cristo, então conhecemos a Deus também através da igreja.

3) Através das Escrituras Sagradas, consideradas como o “livro da igreja”. Este livro, assim como Cristo, são chamados de “A Palavra de Deus”.

4) As Escrituras também dizem que podemos conhecer a Deus na natureza conforme Romanos 1. Eu acredito que nínguem que vive junto ao mar, ou rio, pode ser um ateu.

5) As artes também revelam a Deus. Eu conheço três ex-ateus que dizem: A música de Bach existe, portanto, deve haver um Deus. Isto também é conhecimento imediato.

6) A consciência é a voz de Deus. Isto fala de absolutos morais, sem espaço para sentenças relativistas. É também imediato.

Os pontos 4 a 6 são considerados naturais, enquanto os três primeiros são sobrenaturais. Os últimos tres revelam atributos divinos, e constituiem as três coisas que o espírito humano mais deseja: verdade, beleza e bondade. Deus permeou toda sua criação com estas três coisas. Aqui estão mais 6 maneiras pelas quais podemos conhecer a Deus.

7) Podemos conhecer Deus através de bons argumentos filosóficos. Isto é, através da razão, quando refletimos sobre a natureza, arte ou consciência moral.

8) A experiência, a vida, sua história, tambem podem revelar a Deus. Você pode ver a mão da Providência lá.

9) A experiência coletiva da raça humana, como verificados na história e tradição, expressos na literatura, também revelam a Deus.

10) Os cristãos piedosos revelam a Deus. Eles são como propagandas, espelhos, pequenos Cristos. Eles são talvez a mais efetiva de todas as maneiras de convencer e converter as pessoas.

11) Nossa experiência diária de obediência a Deus tambem revela a Deus. Fica mais claro de ver a Deus quando o coração é puruficado: Bem-aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus.

12) A oração. Você aprenderá mais sobre Deus através da oração do que simplesmente passar uma vida inteira em um biblioteca.

Infelizmente muitos cristãos entram em sérias discussões sobre os variados modos de conhecer a Deus. Fazemos parte de uma família e não há nada mais tolo do que ficarmos discutindo se fossemos rivais. Por exemplo: encontrar Deus na igreja vs. encontrar Deus na natureza, ou razão vs. experiência, ou Cristo vs. arte.

Se voce nega um deste pontos acima, seria uma excelente idéia explorá-lo. Por exemplo, orando e ouvindo boa música. Ou tomando alguma hora para rever sua vida e contemplar a obra de Deus no teu passado. Leia um bom livro para adquirir um conhecimento mais profundo, busque glorificar a Deus, mas ore em primeiro quanto a isto. Existem muitas maneiras de conhecer a Deus, mais do que qualquer lista pode conter ou até mesmo o mundo inteiro.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O que você está lendo?


Este é um texto de Gerson Borges que pode te ajudar a adquirir o gosto pela leitura. Ver texto na integra aqui. / Fonte: Cristianismo Criativo


Ah, meu amigo! Muitos livros, pouco tempo. "Tolle et lege ", foi o que ouviu Agostinho do próprio Espírito Santo sobre a Bíblia ( onfira nas suas "Confissõe " ) . Ou seja, pegue e leia. Alguém disse que daqui a cinco, dez anos, seremos as mesmíssimas pessoas de hoje, a não ser pelos amigos que fizermos e pelos livros que lermos. "O que você está lendo?"


1. Estou lendo a Bíblia. Mas com outros olhos e ouvidos. Lendo Jesus. (Deveríamos ler os Evangelhos umas quatro mil vezes, para começar a entrar na mente de Cristo, para sacar sua Revolução sem precedentes: espiritual-social-política-cósmica, para imitá-lo, para seguí-lo ao invés de distorcê-lo com nosso malucos fundamentalismos e nossos neuróticos legalismos). Lendo oradamente, mais do que exegeticamente, os Salmos. Faz muita, para não dizer, toda diferença. Lendo Paulo. Esse é demais. Viu longe. Provou coisas arrebatadoras. Mas é muito mal compreendido.


2. Estou relendo alguns clássicos. Como disse Ítalo Calvino, "um classico é um texto que sempre terá algo a dizer a cada geração". Os livros do tipo "o Cânone ocidental" e "Como e por que ler", de Haroldo Bloom, "ajudam a encontrá-los, se é que eles já não o encontraram primeiro... Estou relendo, porque muitos já li (ou me leram na infância e adolescência: Homero, Mark Twain, Dumas, Machado de Assis. Gente profunda, esses caras! João Ubaldo Ribeiro disse que diariamente lê umas linhas de Shakespeare. É a sua cafeína inspirativa.


3. Estou descobrindo coisas novas. Acabei de comprar um guia da Superinteressante simplesmente bárbaro: "122 livros para entender o mundo" (Abril). Livros fundamentais sobre sociedade, cultura, religião, ciência. Não sei quem foi que disse que "quem lê só a Bíblia não lê a Bíblia". Sim, por que a Bíblia é sobre o caso de amor de Deus e o homem - relacionamentos. "Juntar Escritura com Escritura, escritura com fato ", recomenda Élben Cesar (Ultimato ), eis o trabalho do Pregador, do Exegeta. Paulo assinaria embaixo. Calvino, Lutero... profundos, extravagantes, bíblicos!


Além dessa lista exaustiva e abrangente, concordo com Ricardo Gondim: "Precisamos ler os teólogos contempoâneos, sobretudo os latino-americanos: são muito inteligentes". Boff, Gutierrez, Comblin...


Ah, ainda no quesito Teologia (que às vezes é bem esquisito, se posso - devido ao que produz a nossa literatura dita "cristã" - usar tal trocadilho besta...) : estou lendo tudo que me cai às mãos de N.T. Wright, bispo anglicano, um dos maiores especialistas no NT e em Paulo de todos os tempos. Fantástico mesmo. Brian McLaren (dele, li " A mensagem secreta de Jesus ", depois "A igreja do outro lado " e me assustei com o vigor intelectual do conteúdo e a semelhança com nossos teólogos latino-americanos - ótimo!), Rob Bell (sobretudo "Velvet Elvis", "Sex God " e "Jesus want to save christians"). Bell é um poeta, um artista disfarçado de pastor. Não que eu concorde com tudo dessa tríade, mas concordo com sua originalidade e força de pensamento e amor a Deus e ao se Reino!
...

4. Estou lendo mais poesia. Adélia Prado, a prosa-poética (se posso reduzir algo tão estupendo) de Guimarães Rosa, lendo e orando os Salmos e os Profetas em voz alta: experimente para ver. É outra coisa! É maravilhamento puro!


5. Estou relendo meus mentores espirituais. Agora não tem jeito - terei de usar uma lista:


- C.S.Lewis: "Surpreendido pela alegria " (Mundo Cristão). De vez em sempre, volto a essa preciosidade. E me surprendo com sua beleza e verdade.
- Richard Foster: todos, sobretudo "A celebração da disciplina" (Vida ). Para quem quer rever a vida espiritual, a devocionalidade.
- Eugene Peterson: todos, sobretudo a trilogia pastoral. Pastor de pastores, poeta, sábio.
- Henri Nouwen: todos, sobretudo os diários e livros sobre oração (grande maioria).
- Thomas Merton: "A montanha dos sete patamares". Um choque na minha antiga religião irrelevante.
- James Houston: os livros sobre oração e história da espiritualidade cristã.
- Bonhoeffer: todos. Tudo o que um mártir tem a dizer deve ser ouvido....


Agora, isso não quer dizer que esteja lendo tudo isso e todos ao mesmo tempo. Claro que não. Seria pretensiosa mentira. Esses são amigos que visito aqui e ali, dependendo dos ânimos do meu coração. "A cabana" (Sextante) , o romance que me foi fortuitamente apresentado por amigos dos EUA (The Shack), simplesmente a maior surpresa literário-teológica dos últimos tempos. Recomendo enfaticamente. Mais dois títulos da minha cabeceira, aguardando um noite insone para serem saboreados: "Qual a tua obra? ", do filósofo da PUC-SP, Mário Sérgio Cortella. Coisa linda. Para quem, como eu, sabe que vocação é algo bem diferente de emprego e "Estabelecer limites", do monge beneditino e psicólogo alemão Anselm Grun (Vozes), para quem, como eu, sabe que "não há prioridades, mas prioridade" (frase que o amigo Osmar Ludovico me apresentou, citando Hans Burki).

domingo, 2 de novembro de 2008

Divagações filosóficas do sentido da vida


Todos buscam um sentido na vida e mentem os que dizem não. Acredito que esta busca é inerente a todos os seres humanos. Um antigo provérbio israelita, provavelmente escrito pelo sábio rei Salomão, há pelo menos mil anos atrás, revela isto. Lá diz que “Os caminhos do coração do homem são como águas profundas”. Sem esta busca apaixonada, não haveria filosofia. Alias, não haveria nada. Não é a pergunta mais elementar aquela que questiona: Porque existe algo ao invés de nada?

A busca pelo significado da vida é custosa, leva tempo, trás desabores. Mas se não houvesse mundo, o que haveria? Nada? Agradeço ao filósofo que disse que o “nada é aquilo que as rochas sonham”. Bem, existe algo, então existe propósito. A questão é se é possível descobrir ou não. Na continuação do provérbio de Salomão, ele diz que é sábio o homem que nas profundas águas de seu ser encontra um sentido. Todavia, o sentido não pode estar dentro, deve estar fora deste ser chamado homem. Somos seres contingentes, não podemos nem mesmo determinar o lugar e dia em que nos tornamos seres reais e não podemos saber o fim. Algo maior que nós deve existir, seja o Motor Imovel de Aquino, seja o Cosmos de Carl Sagan, existimos, e devemos nossa existência a este algo. Posso ser cético o bastante para dizer que devo tudo ao acaso, mas tenho que ter fé demais para defini-lo como uma entidade real. Acaso não é algo que possamos definir ontologicamente, é como o infinito. Vago para ser sincero. Tão vago que torna a busca pelo significado totalmente nula.

Mas para defender que a vida é um absurdo sem sentido, tenho que no mínimo saber que o sentido da vida é um absurdo sem sentido, e isto é um sentido absurdo, mas não deixa de ser um sentido. Obviamente esta idéia é absurda e contraditória.

René descartes duvidou de tudo, até que duvidou tanto, que encontrou sentido. Não foi ele que disse “penso, logo existo”. Sócrates disse “só sei que nada sei”, mas ele sabia alguma coisa, que nada sabia. Isso já é um começo. E a partir deste começo, este brilhante filósofo buscou sentido na vida. Trilhar o caminho de Kant é também quase não ter certeza de nada. Mas não ter certeza de nada pressupõe conhecer alguma coisa da vida.

Quero defender que a vida precisa ter um sentido. Pois se tentar dizer que a vida não tem sentido, como os niilistas, afirmam que a vida tem sentido. Não temos como escapar. Pois se eu disser que vou viver minha vida como se não houvesse sentido para ela, estou querendo dizer que dei a ela um sentido. Então, devemos questionar se existe um sentido bom e outro contrário? Qual é o sentido bom e qual o sentido mal? Quem define? Se mais uma vez eu for irracional o suficiente que sentido bom e mal é dogmatismo religioso, implica que posso viver como eu quiser? Isto é, não faz diferença em viver como Madre Tereza ou Hitler? Ninguém pode suportar isso. Segue-se que viver como lhe apraz mostra que há um sentido na vida, mas não o revela completamente.

Soren Kierkgaard acredita que a ética trazia sentido, mas ninguém conseguia viver sem maculá-la. Certamente, viver como se a perfeição moral fosse o alvo trará frustração, viver desconsiderando que exista algo como um legislador moral acima de nos, trará libertinagem caótica. Então, deva haver algo além, um nível de vida superior, um segundo andar, como dizia Schaffer. E só passa para cima, não falo de paraíso, quem acredita na singularidade de sua própria existência. Singularidade que só pode ser atribuída a quem tem poder de diferenciar entre seres e seres. Quero dizer, sentido implica em projeto e projeto em aquele que projeta. Eu não projetei minha existência, Deus sim. Concluímos que Deus trás sentido a existência, em todos os níveis que podemos imaginar.


Daniel Grubba - Soli Deo Gloria

Jesus realmente desceu ao inferno? Daniel Grubba


Jesus realmente desceu ao inferno?

Colocamos em pauta as três principais soluções apresentadas pelos estudiosos para o problemático texto de I Pe 3.19. São propostas diferentes, porem ambas as argumentações concordam que Jesus desceu ao inferno depois de morrer. Abordamos cada uma delas e verificamos as incoerências. Mas há um problema que todas têm que enfrentar. É que a origem da frase “desceu ao inferno” não aparece em nenhum lugar da Bíblia. Mas de onde exatamente surgiu esta idéia?

O Credo Apostólico

A primeira ocorrência da expressão “desceu ao inferno” está no Credo Apostólico, que tem a expressão latina “descendit ad inferna” (desceu aos infernos/hades) e a outra se encontra no Credo de Atanásio, com a expressão latina “descendit ad inferos” (desceu às regiões inferiores). O texto final do Credo Apostólico faz uma bela declaração de fé:

Creio em Deus, o Pai onipotente, Criador do Céu e da Terra. E em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor, o qual foi concebido do Espírito Santo, nascei da Virgem Maria, padeceu sob Poncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos, no terceiro dia ressussitou dos mortos, subiu aos céus, este sentado a destra de Deus, o Pai onipotente, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.

Sobre o desenvolvimento histórico do Credo Apostólico, Wayne Grudem diz que “foi surpreendente descobrir que a frase desceu ao inferno não se encontrava em nenhuma das versões primitivas do credo até que ela apareceu um uma versão de Rufino em 390 d.C., o único a incluí-la antes de 650 d.C”. Já que não é uma doutrina bíblica, Heber Campos afirma que devemos rejeitar as várias idéias relacionadas como a “decida literal de Jesus ao hades”.

Interpretação mais equilibrada

Ao rejeitarmos as idéias apresentadas anteriormente, somos forçados automaticamente a sugerir alguma outra interpretação mais coerente, porém com os mesmos critérios de avaliação. Vamos propor, na verdade, duas interpretações diferentes, mas que não são contraditórias entre si, pois entendemos que ambas podem ser usadas como propostas válidas e mais confiáveis biblicamente falando.

Interpretação reformada

O entendimento dos teólogos reformados com respeito a eventual descida de Jesus ao hades é bem diferente da de muitos cristãos, principalmente dos estudiosos citados neste trabalho. Esta interpretação está na verdade baseada na proposta do reformador de Genebra, João Calvino (1509-1564). Ele sustentou que “a descida ao hades foi a experiência das dores do inferno na alma de Jesus, enquanto seu corpo estava ainda pendurado na cruz, especialmente a experiência da ira divina contra o pecado, que ele suportou no lugar dos seres humanos”. Para Calvino, a alma de Cristo tinha de sentir todos os efeitos do juízo pois se alma dele não tivesse sido afetada pelo castigo, seria somente salvação de corpos. Erwin Lutzer corrobora com esta idéia, principalmente quando se analisa com profundidade o significado do brado de Cristo, enquanto pendurado na cruz em meio às trevas (Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? (Mt 27.46). Ele diz:

Jesus certamente suportou o sofrimento do inferno, pois o inferno é escuridão, é desamparo, é ser abandonado por Deus, e se foi assim, o horror do que ele experimentou está além de nossa compreensão.

Heber Carlos de Campos, escritor reformado, conclui dizendo que “Jesus nunca desceu ao hades de literal e espacialmente, mas experimentou intensivamente todas as coisas que o hades representa”.

Interpretação analógica

A explicação da interpretação tipológica não chega a contradizer a interpretação reformada, mas dá ao texto I Pe 3.19-20 um enfoque diferente, todavia ambos concordam que Cristo não desceu ao inferno literalmente. Segundo Wayne Grudem, esta explicação é a mais satisfatória de I Pe 3.19-20 e remonta Agostinho que já dizia: a passagem não se refere a algo que Cristo fez entre sua morte e ressurreição, mas ao que “fez no âmbito espiritual da existência” (ou pelo Espírito) nos dias de Noé. Isto quer dizer que quando Noé estava construindo a arca, Cristo, “em espírito” estava pregando por meio de Noé aos incrédulos hostis em torno dele.


Esta concepção, não é tão popular, mas é digna de alta consideração. Não é tão mitologia quanto as anteriores (exceto a interpretação reformada), não se baseia em doutrinas humanas (Credo Apostólico) e tem apoio bíblico considerável. Por exemplo, em I Pe 1.11, ele diz que o “Espírito de Cristo” falava por intermédio dos profetas do Antigo Testamento. Em 2 Pe 2.5, ele chama Noé de “pregador da justiça”, empregando o substantivo keryx que vem da mesma raiz do verbo pregar de I Pe 3.19. Tudo isso nos leva a concluir que Cristo “pregou aos espíritos em prisão” por intermédio de Noé nos dias anteriores ao dilúvio. Esta idéia levanta um problema, pois eruditos em grego, afirmam que a Bíblia nunca usa “espírito” em referencia aos humanos. Como responder a isto?

As pessoas a quem Cristo pregou por meio de Noé eram incrédulos sobre a terra na época de Noé, mas Pedro os chama “espírito em prisão” porque estão agora na prisão no inferno (A NASB diz que Cristo pregou “aos espíritos agora em prisão) [...] Assim, Cristo pregou aos espíritos em prisão significa: cristo pregou as pessoas que são agora espírito em prisão, quando ainda eram pessoas sobre a terra.

Um outro conjunto de versículos em Pedro apóia está interpretação, de acordo com o contexto maior de I Pe 1.13-22. Neste contexto geral, Pedro parece fazer uma analogia interessante entre a situação de Noé e a situação de seus leitores. O confronto entre estas épocas distintas revela que ambos faziam parte de minoria justa, rodeados por incrédulos hostis, aguardavam o iminente juízo de Deus (I Pe 4.5-7; II Pe 3.10), deviam pregar com ousadia (I Pe 3.14, 16-17; 3.15; 4.11) e eram salvos ou seriam salvos (I Pe 3.13-14; 4.13; 5.10).

Conclusão

A pergunta que não quer calar agora pode ser respondida. Jesus desceu ao inferno? A resposta é não. Verificamos que há muitos problemas em adotar esta concepção e o testemunho do restante da bíblia não o apóia definitivamente. Como afirma Wayne Grudem, é no mínimo confusa e, na maior parte dos casos, enganosa para os cristãos de hoje.


Post dos artigos anteriores. Jesus desceu ao inferno? parte 1,2 e 3.

Soli Deo Gloria
Daniel Grubba

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O método de estudo bíblico de A. W. Pink

"Nos meus primeiros anos eu assiduamente segui este triplo caminho:

  • Em primeiro lugar, eu lia toda a Bíblia três vezes por ano (oito capítulos do Antigo Testamento, e dois do Novo Testamento diariamente). Eu constantemente perseverei nisso durante dez anos, a fim de me familiarizar com o conteúdo, que só pode ser alcançado através de consecutivas leituras.

  • Em segundo lugar, eu estudei uma porção da Bíblia a cada semana, concentrando-me por dez minutos (ou mais) todo dia na mesma passagem, pensando na ordem dela, na ligação entre cada afirmação, buscando uma definição dos termos importantes, olhando todas as referências marginais, procurando seu significado típico.

  • Terceiro, eu meditei sobre um versículo a cada dia, escrevendo-o sobre um pedaço de papel na parte da manhã, memorizando-o, consultando-o em alguns momentos ao longo do dia; pensando separadamente em cada palavra, pedindo a Deus para revelar para mim o seu significado espiritual e para escrevê-la no meu coração. O versículo era o meu alimento para aquele dia. Meditação é para a leitura como a mastigação é para o comer.
Quanto mais alguém seguir o método acima mais deve ser capaz de dizer:
'A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho' Sl 119: 105'"
- A. W. Pink, em Reformed Voices
Traduzido e publicado originalmente por: Vinícius Pimentel

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A construção da cosmovisão cristã / Jonas Madureira

Palestra de Jonas Madureira (teológo e mestre em filosofia - PUC-SP) no 6º Congresso de Teologia Vida Nova

Origem Etimológica e Contexto Originário do Termo “Cosmovisão”

A palavra “cosmovisão” é tradução do inglês worldview. Esta, por sua vez, é tradução da palavra alemã Weltanschauung. Welt- significa “mundo”; -anschauung: “apreensão”, “percepção”, “intuição” de mundo. A origem desse termo está na filosofia alemã, e foi cunhado pelo filósofo alemão Wilhelm Dilthey (1833-1911). Em sua obra Tipos de cosmovisão e sua figuração nos sistemas metafísicos (1911), Dilthey afirma que “toda a cosmovisão é uma estrutura complexa fundada sobre a base de uma imagem de mundo que determina a significação e o sentido da vida”[1].

Breve Definição de “Cosmovisão”

Trata-se de toda base e estrutura de significação, compreensão e interpretação do kósmos, isto é, do mundo em que vivemos (Lebenswelt). Nesse caso, temos a semente do conceito de cosmovisão já no De Anima de Aristóteles, quando o Estagirita diz que a “alma nada conhece sem a mediação das imagens (phántasmata)” [431a14]. Ou seja, todo o conhecimento do mundo, das coisas que estão no mundo, de Deus, de nós mesmos, do outro etc., se dá pela mediação das imagens que produzimos como resultado da “apreensão”, “percepção”, “intuição” das coisas conhecidas. Isso é assim tanto para filósofos tão distintos, como Platão e Aristóteles, quanto para teólogos que viveram em realidades tão distantes, como Agostinho e Tomás de Aquino.

Cosmovisão e Finitude

O fato de o conhecimento ter que ser mediado por imagens, i.e., por “visões de mundo”, revela o caráter finito do conhecimento humano. Ou seja, a mediação da “cosmovisão” indica a impossibilidade do ser humano apreender diretamente (imediatamente) a realidade. Não somente isso. A mediação das imagens (cosmovisões) implica um conhecimento parcial e não total da realidade. Isso era indiscutível tanto no contexto filosófico da antigüidade como em todo o medievo (Platão, Aristóteles, Plotino, Agostinho, Boécio, Anselmo, Abelardo, Tomás, Scotus, Ockam). Porém, a modernidade — representada por Descartes, Kant e todo o idealismo filosófico que vigorou até o final do século XIX, e que ainda hoje tem influenciado a vida de muitos de nós ocidentais — estabeleceu uma nova base e estrutura para o desenvolvimento da epistemologia (teoria do conhecimento). Trata-se das filosofias do sujeito (cogito de Descartes, “sujeito transcendental” de Kant).

Ao contrário do pensamento antigo-medieval, o idealismo filosófico moderno pressupõe a possibilidade do conhecimento total da realidade. E a base e estrutura desse conhecimento estão no sujeito, que, por sua vez, resiste a toda “dúvida metódica” (epoché, “colocar entre parênteses”) e a toda necessidade de fundamentação do conhecimento a posteriori (conhecimento que não é universal nem necessário, i.e., que se deriva da experiência). O resultado disso é a noção de que o sujeito é universal (o cogito é uno; não existem “sujeitos transcendentais”), e só tem acesso imediato à suas representações. Isso marca uma mudança no processo de conhecimento. O sujeito que conhece não mais apreende o mundo, e forma a partir dessa apreensão uma visão de mundo (base e estrutura de conhecimento antigo-medieval). Agora, o sujeito transcendental constrói o mundo, i.e., elabora a sua visão da realidade. Assim, o único mundo que é cognoscível é aquele que se tornou produto das representações construídas pelo sujeito. Em suma, (1) não apreendemos mais a realidade; (2) a coisa-em-si torna-se incognoscível; e (3) a realidade do mundo é colocada em “suspenso”. Ou seja, perdemos o acesso ao mundo real pela negação da possibilidade de apreendê-lo. O que nos resta é apenas o mundo construído por nosso psiquismo.

Somente no final do século XIX, com o desgaste e a crítica dos idealismos modernos, é que se voltou a cogitar um retorno da noção de “apreensão da realidade”, porém sem os malabarismos metafísicos tão marcadamente presentes no pensamento antigo-medieval. É nesse contexto de desgaste e crítica dos idealismos que surge o conceito de “cosmovisão”. Portanto, o termo “cosmovisão”, pelo menos originalmente, acolhe a esperança de recuperação de uma base e estrutura de apreensão do conhecimento humano. [Que não se confunda “base e estrutura de apreensão” com “base empírica”!].

Cosmovisão como Base e Estrutura Epistemológicas

Como vimos, “cosmovisão” implica “apreensão” e “mediação”. Isso significa que o conhecimento que temos ou podemos ter das coisas tem sua base e estrutura na capacidade que temos de apreender o mundo em que vivemos. Não somente isso, pois o que conhecemos é apreendido conforme uma determinada base e estrutura. Ou seja, todo ser humano, seja quem for, seja onde estiver, conhece a realidade em que vive a partir de uma determinada base e estrutura de conhecimento. Isso é o que define o caráter mediador das cosmovisões ou imagens que formamos a partir da apreensão das coisas que conhecemos parcialmente.
Cosmovisão, Teologia e Proclamação

Nossas teologias são mediações de nosso conhecimento de Deus. Isso significa que elas são elaboradas sob a base e a estrutura de nossa “visão de mundo”, i.e., de nossa “apreensão da realidade”. Como mediações, as teologias estão sob a marca da finitude. Ou seja, elas não são apreensões plenas da realidade (i.e., “totalizantes”). Como mediações, as teologias são sempre parciais. Esse caráter parcial de nossas teologias está presente nas Escrituras e especialmente em Paulo: “Porque agora vemos como por um espelho, de modo obscuro, mas depois veremos face a face. Agora conheço em parte, mas depois conhecerei plenamente, assim como também sou plenamente conhecido” (1Co 13.12, A21). Nossas afirmações teológicas sobre Deus, ainda que sejam corretas, ainda que sejam absolutamente verdadeiras, ainda assim refletem uma visão parcial da nossa realidade e da realidade de Deus. É preciso entender que qualquer compreensão da “revelação que em parte conhecemos” depende de uma base e estrutura epistemológicas que são determinantes em nossa interpretação das Escrituras, da realidade de Deus, dos seres humanos, do mundo etc. Não queremos com isso defender a necessidade de criarmos um critério de verificação da validade lógica ou da veracidade de nossas proposições teológicas. Não está em jogo saber qual teologia é certa, qual é a errada. O que está em jogo é a consciência de que sempre que fazemos teologia somos atravessados por nossas visões de mundo. E que isso tem fortes implicações em nossa tarefa de proclamação do Reino de Deus. Somos os portadores da Palavra. Isso nos coloca diante do desafio de fazer com que a proclamação seja ouvida. E isso não é feito sem a mediação de nossas cosmovisões e teologias.

Sugestão de Leitura

AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Paulus, [Livro X].
ARISTÓTELES. De Anima (Livros I-III). Campinas: IFCH/UNICAMP, [431a17].
TOMÁS DE AQUINO. Suma de Teologia. 1ª Parte, Q. 84-89. Uberlândia: EDUFU, [Q. 84, a.7].
MADUREIRA, Jonas. Filosofia. São Paulo: Edições Vida Nova, [p. 63-78].

[1] DILTHEY, W. Die Typen der Weltanschauung und ihre Ausbildung in den metaphysischen Systemen. Berlin: Reichl, 1911, p. 45.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

2º Palestra - "Fé e conhecimento" / Dr. Merold Westphal, ph.D.

Segue abaixo os príncipais pontos da 2º palestra do Dr. Merold Westphal na Universidade Mackenzie-SP (22/10).

O que é fé?

Para Mark Twain a "fé consiste em acreditar naquilo que você sabe que não é assim". Isto significa que a fé é uma crença ilógica na ocorrência do improvável. Estas concepções de fé, como algo antagônico ao verdadeiro saber, tem suas origens em Platão. Segundo este filósofo grego, a fé é uma tentativa fatal de alcançar o conhecimento. Crenças tal como realidades experimentais e sensoriais nunca chegam ao nível do verdadeiro e imutável conhecimento. A palavra usado por Platão para este conceito de fé, é a palavra grega pistis, algo parecido com opinião. E é o máximo que podemos alcançar com os sentidos, a opinião (pistis). A idéia geral de que a fé é uma tentativa fracassada de conhecimento.

Para Dr. Merold Westphal, a fe é uma confiança em um Deus pessoal, em suas promessas e mandamentos. O NT também faz uso da palavra pistis, todavia com sentido complemente diferente de Platão. Pistis no NT é uma confiança real em um Ser pessoal (Hb.11.1). Segundo Merold, existe um risco cognitivo na fé, porque a certeza não é garantida ela visão (II Co 5.7). - A definição de fé, segundo Merold, é pautada pela cosmovisão bíblica.

É unânime que apareça as seguintes perguntas: Fé é conhecimento falho? Somente a filosofia pode nos aproximar do verdadeiro conhecimento conforme o conceito platônico?

O que é a razão?

De acordo com o projeto do Iluminismo, a razão dá as garantias que a fé não provém. A razão é a base para crença e prática. E ainda, promove a tolerância tão vilipendiada pelo autoritarismo religioso. Razão nestes moldes, então, passa a ser a religião universal revelada pela razão e não revelação. Isto significa que cada ser deve ser livre para averiguar a verdade.

Este projeto universalizante e pacificador não deu certo. Primeiro porque promoveu um Reino de Terror (Ex: comunismo soviético e revolução francesa) e segundo, porque o nome "razão" se tornou um conceito extramente contráditório como mostra os séculos posteriores, onde a razão foi elaborado de formas diametralmente opostas. A razão se tornou símbolo do pluralismo. Os conceitos racíonais de Spinoza, kant, Hegel (sec 16,17 e 19) são totalmente diferentes tal como judaísmo, cristianismo e islã.

Dr. Merold argumenta que a razão, segundo revela seu desenvolvimento histórico, se tornou uma fé particular sem garantia. Ele acredita que tudo depende dos pressupostos que temos trazido conosco, uma vez que a razão nunca está isenta de pressupostos.

Aonde Dr. Merold quer chegar? Devemo apelas a intuição na busca da verdade? Devemos ser abitrários em nossas escollhas?

Para Merold, toda fé, seja ela religiosa ou "racional", envolve riscos cognitivos. Dr. Merold sugere que em todas escolhas de nossa mente existe o aspecto volitivo. Não é uma questão puramente teórica, uma vez que não somos máquinas pensantes abstratas. Quando começamos a pensar sobre algo, estamos em algum lugar e não em lugar nenhum (vácuo).

A fé com dádiva

- Não é produto humano, mas uma conversação de um Deus amoroso.
- Deus está ativamente envolvido no nascimento da fé (Ef 2.8). Ele infunde em nós a verdade.
- Porque nem todos tem fé? Dr. Merold responde: Não sei!

Para Dr. Merold na questão que envolve a fé, a oração exerce um aspecto central e na razão, ela não tem espaço.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Congresso "Filosofia e Cristianismo" na Univ. Mackenzie / Dr. Merold Westphal




A primeria palestra com o prof. da Fordham University - New York, Dr. Merold Westphal (mestre e ph.d. em filosofia pela Yale University) foi breve e direta. No auditório Rui Barbosa da Universidade Mackenzie, Dr. Merold versou sobre o tema "Os usos religiosos de ateísmo moderno".

Segue abaixo a sinopse da palestra:


Ateísmo por definição é a negação do teísmo (principalmente o teísmo monoteísta). O teísmo tradicional cristão afirma que Deus é um criador pessoal, doador da lei moral e um salvador misericordioso. Logo, o atéismo nega estas proposições e proclama a ausência deste ser.


O que entendemos quando falamos em Deus pessoal?

- Um agente e não simplesmente uma causa.
- Realizador de atos de linguagem como promessas e mandamentos.
- Realizador de atos de justiça, misericórida e amor.


Ateísmo pré-filosófico - é a ausência de um Deus pessoal, mas sem uma negação explícita. Não é um sisteme filosófico bem delineado. (Algo como o agnósticismo). Não é impossível que Deus exisa, mas ele não deve existir. Neste caso, não há um explicação racional, é apenas uma preferência cosmovisionária.


Atéismo filosófico - diferentemente do ateísmo pré-filosófico, envolve uma reflexão racional sobre esta crença. É também chamado de ateísmo evidencialista.
- O ateísmo evidencialista com referência a verdade, busca evidências para justificar a negação do ser de Deus. E por outro lado, declara insuficientes as evidências que justificam o teísmo.
- O ateísmo evidencialista com referência a racionalidade, declara que são insuficientes os argumentos teístas que procuram torná-lo uma crença irracional. E por outro lado, declara que os argumentos que tornam o teísmo irracional são suficientes.

Ateísmo de suspeição

O principal foco do Dr. Merold não foi exatamente o "ateísmo filosófico", mas o ateísmo de suspeição ou suspeita. De acordo com Dr. Merold, este sistema pode ser considerado como um auto-engano, pois não é avaliado de acordo com os princípios que norteam a lógica. São simplesmente aceitos por seus expoentes sem avaliação racional, que parecem querer dizer: "Cremos no que cremos porque queremos crêr nisso!" Obviamente, existe interesses nisso, sejam eles individuais ou sociais. Os principais teóricos desta corrente são: Marx, Freud e Nietzsche.

1) Freud - a religiosidade é como sonho ou desejos disfarçados. É uma realização da mente humana que busca na religião; proteção contra os enigmas da morte, juízo contra opressão, preenchimento da falta de afeto paternal e meios para deerminados fins.

2) Marx - a religião está ligada a "história das classes e idéias dominantes". Para Marx, qualquer sistema de idéias (política, filosófica, econômica, social, etc.) deriva de suas força/utilidade e não de sua veracidade. Chama-se isso de ideologia. Todavia, Marx estabelece que a ideologia deve legitimizar aspectos sociais para ter seu valor, e obviamente, a religião não tinha. Isto significa que para Marx, a religião é um forma de exploração que traz alívio a consciência do opressor e neutraliza a revolta do crédulo. Por isso a máxima que diz "a religião é o ópio do povo".

3) Nietzsche - A religião tem origem na "revolta dos escravos" e no ressentimento dos escravos contra os senhores. Isto explica o surgimento do preconceito moral, uma vez que os escravos faziam dos senhores, os "maus", e por exclusão, eles mesmos se tornavam os "bons" (auto-afirmação/superioridade moral).

Estas propostas ateístas e teóricas acimaIquerem demonstar que a visão teísta é rudimentar. Um sistema mental que busca a realização de desejos escondidos, manipulação social e a auto-afirmação (negação do outro).

Como responder, de acordo com Dr. Merold? (Em nenhum momento Dr. Merold defendeu que seus argumentos são invencíveis). Para este estudioso, eles podem ser classificados como; 1) argumentos pouco convicentes, 2) argumentos não tão bons, e 3) melhor argumento.

1) Pouco convicente (Falácia genética).

- É falacioso pressupor que a crença é injustificável apenas porque existe problemas com os crentes. Segundo Merold, parece ser recusa em reconhecer a verdade daquilo que a suspeição desconfia.
- Ataque tu quoque - qualquer argumento corta os dois lados. Se para Freud a crença religiosa é infantil porque busca a figura de um Pai, então a teoria de Freud não passa de uma crença adolescente. Isto é, a recusa adolescente em reconhecer um autoridade superior.

2) Argumento não tão bom.

-A argumentação ateísta não reflete toda a história, é parcial. Exemplo: No USA usaram a telogia para justificar atos racistas, mas também foi usada como a base do abolicionismo e dos direitos civis.

3) Melhor resposta.

-Reconhecer a verdade da crítica da suspeição e usá-las para auto-exame.
-Muitas críticas tem sua origem em textos bíblicos de orientação profética e não no ateísmo moderno. Para Dr. Merold, Marx foi uma grande plagiador de Amós, Oséias, Isaias, Jesus e Tiago, uma vez que todos estes eram críticos sociais. Nietzsche diz que sua crítica é semelhante a crítica de Jesus aos fariseus. Freud diz que a psicanálise e a religião concordam que somos fracos.
- Viver piedosamente e trabalhar para sanar os erros encontrados pelos ateísmo. Neste caso, o melhor argumento é a própria vida do cristão.

Soli Deo Gloria

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Apologética cristã, quem precisa disto? William L. Craig


Tradução & créditos: Vitor Grando (despertaibereanos.blogspot.com)


"Ao viajar, eu também tenho encontrado outras pessoas que me disseram como elas deixaram de apostatar por ter lido um livro apologético ou visto o vídeo de um debate. No caso delas a apologética foi um meio através do qual Deus as fez perseverar na fé. Agora, é claro, a apologética não pode garantir a perseverança, mas pode ajudar e em alguns casos, pela providência de Deus, ser até necessária. Recentemente eu tive o privilégio de falar na Universidade de Princeton sobre argumentos para a existência de Deus, e após minha preleção eu fui abordado por um jovem que queria falar comigo. Claramente segurando as lágrimas, ele me disse que há poucos anos atrás ele vinha lutando com dúvidas e estava prestes a abandonar sua fé. Alguém lhe deu um vídeo de um dos meus debates. Ele disse "Isso me salvou de perder a fé. Eu não posso te agradecer o bastante."


Eu disse, "Foi o Senhor que lhe salvou de cair".


"Sim", ele respondeu, "mas Ele te usou. Eu não posso te agradecer o bastante". Eu lhe disse o quão emocionado eu estava por ele e lhe pergunta sobre seus planos futuros. "Eu estou me graduando esse ano", ele me disse, "e eu planejo ir para o seminário. Eu vou ser pastor." Glória a Deus pela vitória na vida desse homem!"

sábado, 4 de outubro de 2008

I Pe 3.19 - Jesus desceu ao inferno? (Parte 3) / Daniel Grubba

Terceira teoria: Proclamar vitória aos poderes das trevas

Uma terceira posição, é a de que Jesus, entre sua morte e ressurreição foi a inferno. Porém, a diferença é que esta suposta viagem metafísica não foi planejada com a intenção de oferecer segunda chance aos penitentes, tampouco libertar santos do AT, mas apenas para proclamar uma mensagem de vitória aos poderes do maligno. Esta teoria é tão popular quanto a anterior (libertar santos do AT).
Para Norman Geisler e Ron Rhodes, os espíritos em prisão “eram seres não salvos, devem ter sido anjos ao invés de seres humanos[1]”. Robert H. Gundry (Ph.D. em Estudos do Novo Testamento pela Manchester University) diz que “a pregação de Cristo aos espíritos em prisão mui provavelmente significa que Cristo desceu seu espírito ao hades, a fim de proclamar Seu triunfo sobre os espíritos demoníacos que ali haviam sido acorrentados por Deus[2]”. Roger Stronstad, editor do Comentário Bíblico Pentecostal, afirma que Jesus em virtude de sua morte, foi até os anjos aprisionados e anunciou sua vitória sobre a morte e as conseqüências de seu triunfo, isto é de que julgamento já estava selado[3].
Esta posição está fundamentalmente baseada em uma análise léxico-sintática de I Pe 3.19. Como já vimos este versículo diz que Cristo “foi e pregou aos espíritos em prisão” (NVI). E o que chama a atenção dos estudiosos desta sentença é o verbo pregar. A análise revela que Pedro usa propositalmente a expressão original grega kerussõ (khru,sow) que significa: “ser arauto”, ou em geral, “proclamar”[4]. Este termo é diferente de outra expressão grega euangelizõ (euvaggeli,zw), que significa pregar ou evangelizar (no sentido de dar oportunidade de escolha), que quase sempre é usado acerca das “boas novas” relativas ao Filho de Deus, conforme são proclamadas no Evangelho[5]. Neste contexto a melhor tradução bíblica em português de I Pe 3.19 é a KJA[6] que diz: “no qual igualmente foi e proclamou aos espíritos em prisão”.

Tomar as chaves da morte, inferno e Satanás.

É muito comum ouvirmos em pregações, principalmente quando o tema é batalha espiritual, uma expressão que diz: “Satanás é tão pobre que nem a chave de sua casa (inferno) ele tem mais”. Esta expressão popular[7] está intimamente associada com a idéia da ida de Cristo ao inferno. Muitos entendem que Jesus em sua rápida passagem pelo inferno proclamou a vitória da redenção, e de quebra tomou das mãos de Satanás as chaves do inferno e da morte.
Devemos mais uma vez rejeitar esta posição alegórica, pois o texto de I Pe 3.19 não diz isto claramente. E os versículos que tratam das chaves da morte e do inferno, nenhum, absolutamente, associa estas chaves como pertencentes a Satanás. “Somente o Senhor possui as chaves da morte e do inferno. Ninguém mais!” [8] Esta soberania está explicita em textos como Mt. 16.19, que diz que a chaves do reino dos céus foi entregue por Jesus aos apóstolos. E também em Ap. 1.18, texto em que o próprio Jesus declara que as chaves da morte e do hades (NVI) pertencem a ele. Em nenhum momento Jesus diz foi ao inferno (ou até mesmo a bíblia), e precisou roubar as chaves das mãos de Satanás, uma vez que este ser angelical nunca as teve em suas mãos[9].

Proclamar vitória aos anjos caídos

Segundo os expoentes desta teoria, a pregação aos espíritos, não é às “boas novas” propriamente dita, mas o ato de Jesus proclamar Sua vitória aos espíritos dos anjos caídos[10]. Com isso, eles querem dizer, que os “espíritos em prisão que há muito desobedeceram [...] enquanto a arca era construída” (NVI) são os filhos de Deus de Gn.6.2. Declara-se que os “filhos de Deus” eram anjos caídos, assim como em Jó 1.6 e 2.1 que (segundo se declara) abandonaram seu estado propriamente dito (espiritual) e se casaram com mulheres nos tempos de Noé[11] (Gn 6.1-4). Portanto, sugerem que Cristo foi proclamar vitória a estes anjos caídos da época de Noé[12].
Sobre isto devemos dizer esta idéia está mais baseada em mitos da literatura apócrifa apocalíptica judaica[13] do que na Bíblia, pois em Mt 22.30, Jesus diz que anjos não se casam. Um outro ponto fraco desta interpretação é que o contexto maior de I Pe 3 destaca pessoas hostis (I Pe 3.14,16) e não demônios, ou anjos caídos. E mesmo que o texto indicasse que eram demônios, exatamente de onde os leitores de Pedro encontrariam a idéia de que os anjos pecaram “enquanto se preparava a arca (I Pe 3.20)? Não há nada disso na história a respeito da construção da arca em Genesis[14].
De fato, como acabamos de ver, estas interpretações propostas são bem interessantes, mas algumas contradições irreparáveis as prejudicam. Wayne Grudem após analisar esta tese (proclamar vitória aos poderes das trevas) conclui:
Os leitores de Pedro teriam de se submeter a um processo de raciocínio incrivelmente complicado para chegar a essa conclusão, já que Pedro não ensina isso de modo explicito. [15]

[1] Norman Geisler e Ron Rhodes, Resposta às seitas, p. 411.
[2] Robert H. Gundry, Panorama do Novo Testamento, p. 394.
[3] Roger Stronstad comentando I Pe 3.19 no Comentário Bíblico Pentecostal, p. 1718.
[4] De acordo com o Dicionário VINE, p. 891. Ele diz que o verbo ekeryxen significa; proclamar uma mensagem, da parte de um rei ou potentado. (Ver também; Gleason Archer, em Enciclopédia de temas bíblicos, p. 356).
[5] Dicionário VINE, p.891.
[6] A nota textual de rodapé da KJA (King James Atualizada) explica que este tipo de pregação foi uma proclamação vitoriosa realizada por Jesus sobre o inimigo e toda a malignidade do universo (2 Pe 2.4-5; Cl 2.15).
[7] O grupo musical de louvor, Diante do trono ajudou a popularizar esta posição através da música “A vitória da Cruz”, composta por Ana Paula Valadão Bessa e gravada ao vivo no Parque da Gameleira (BH) em Jul/2000. A estrofe mais significativa para nosso trabalho diz: “O Leão de Judá pisou bem forte e os esmagou, Tomou as chaves das mãos do diabo, Abriu minas cadeias e me resgatou”. De fato é uma linda poesia inspirada, resta-nos saber se é biblicamente correta.
[8] Franklin Ferreira & Alan Myatt, Teologia Sistemática, uma analise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual, p. 620. Citação tirada pelos autores do livro de Heber Carlos de Campos, “Descenti ad Inferna”, p.126-127.
[9] É importante observar que o conceito de chaves em Ap. 1.18 está associado ao controle absoluto de Deus sobre a vida e sobre a morte. Outros textos corroboram com intensidade este conceito (Dt. 32.39; I Sm 2.6; Jo 5.21).
[10] Dicionário VINE, p. 892.
[11] Outras explicações menos lendárias devem ser analisadas e preferidas. Em outros contextos “filhos de Deus” muitas vezes se referem a seres humanos, embora em contextos diferentes (Dt. 14.1; 32.5; Sl 73.15; Is 43.6; Lc 3.38; IJo 3.1). Uma possibilidade válida é que “filhos de Deus” se refere a homens piedosos, descendentes de Sete e “filhas dos homens” se refere a mulheres pecaminosas da linhagem ímpia de Caim. Mais detalhes em Nota Textual de Gn 6.2, da Bíblia de Estudo NVI, p. 15.
[12] É assim que interpreta o texto David H. Stern. Ele diz: Os espíritos aprisionados são os anjos que pecaram (2 ped 2:4) e não mantiveram sua autoridade originaria (judas 6). Isto é, eles são “filhos de Deus ou filhos dos anjos), também chamados nefilim (caídos), que caíram de sua própria esfera, o céu para a terra, e “vendo (...) que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres” nos dias de Noach (Gênesis 6:2-4). Mais detalhes em Comentário Judaico do Novo Testamento, p. 820-821.
[13] O livro apócrifo de I Enoque ( datado de 165 a.C. a 90 d.C.) defende a idéia mostra como os anos caídos coabitaram com as filhas dos homens que geraram uma raça monstruosa de gigantes (I Enoque 7.1;15.1;86.1). Segundos o relato (15.1), esses gigantes forma destruídos pelo Dilúvio, mas seus epíritos foram deixados soltos como demônios para corromper todo gênero humano. (David, S. Russel, Entre o AT e o NT, p.103.)
[14] Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p. 493.
[15] Idem, p. 493.