domingo, 23 de março de 2008

O Estudo da Teologia e as Escrituras (Solano Portela)

Estudar teologia não é uma área segregada à academia teológica; não pertence à esfera de intelectuais maçantes que se preocupam em descobrir e firmar termos técnicos incompreensíveis aos demais mortais; não é monopólio daqueles que escrevem livros meramente para adquirir a respeitabilidade e admiração de seus colegas docentes; nem pertence a mosteiros anacrônicos, que procuram se aproximar de Deus distanciando-se do mundo que Ele criou. Mas é tarefa de todas as pessoas – quer elas reconheçam esse dever, quer não. É simplesmente pesquisar no lugar correto sobre a pessoa de Deus através do estudo do que ele é, e do que ele faz.
Ter uma compreensão teológica adequada, extraída da fonte correta, sobre a pessoa e os atos de Deus, é o que nos coloca no rumo do reconhecimento e glorificação da Sua Pessoa. Essa compreensão das coisas que podemos aprender sobre a divindade, tem que ser sedimentada nos corações pelo poder soberano do Espírito Santo e correlacionada com as atividades do dia-a-dia, pelo poder salvador de Cristo Jesus – Criador e centro da Criação. Isso é o que dá sentido à nossa existência e é o que nos aproxima da nossa finalidade original, que foi distorcida e desviada pelo pecado. É a ante-sala da eternidade, aqui na terra.
Existe, portanto, a propriedade do estudo desta área de conhecimento. Deve ser reconhecida, também, a centralidade do estudo da teologia, na gama de conhecimentos disponíveis ao homem. Estudar teologia é algo importante para que compreendamos a vida e o nosso papel nela. Teologia, em seu conceito, é o summum bonum do pensar: nada a excede em importância e relevância e todas as pessoas, quaisquer que sejam as suas carreiras ou profissões, deveriam estar envolvidas nesse estudo. Essa atividade intelectual não é antagônica nem contraditória à verdadeira piedade e devoção a Deus. Muitos, é verdade, advertem contra o estudo da teologia. Vários a contrapõem à piedade cristã; e ainda outros acham que o muito estudar afasta de Deus. Mas a realidade é que esse pensar é fruto do “espírito anti-intelectual dessa geração”, que “tem se infiltrado de tal maneira na igreja, que eles recusam a crer que alguma atividade intelectual possua valor intrínseco”.[1] É preciso, entretanto, nadar contra a corrente e resgatar um estudo lógico, profundo, sistemático sobre o Deus verdadeiro.
Tudo isso começa com uma compreensão da doutrina das Escrituras. Com a verificação e aceitação que elas são Palavra de Deus, a base de tudo que se possa compreender sobre as demais doutrinas. A Confissão de Fé de Westminster tem essa progressão lógica. As doutrinas de Deus, do Homem, de Cristo, e da Salvação são estudadas após as estacas estarem firmadas na Palavra Inspirada. A partir dessa fonte é que elas são apresentadas Para o estudo da teologia é necessário, portanto, o saudável apreço pela Escritura; pelo lugar básico do meio de comunicação de Deus para com as pessoas – a Bíblia – como fonte do conhecimento religioso e como lugar onde encontramos as respostas às questões principais relacionadas com o nosso propósito e nosso destino.
Precisamos fugir do subjetivismo que tem mirrado as mentes cristãs, e voltarmos à revelação proposicional e objetiva da Palavra de Deus. Não podemos nos deslumbrar ou nos enganar com a pretensa super-espiritualidade contemporânea, que pretendendo estar mais próxima de Deus em um enlevo místico-misterioso, no qual dialoga-se com Deus, recebe-se revelações; fala-se muito em amor, em vida, em ministério, em pregação, em poder, em maravilhas, em atividades, em louvor; enquanto que progressiva e paralelamente há demonstração de afastamento e desprezo para com a única fonte de revelação objetiva que Deus nos legou: As Sagradas Escrituras.
As Escrituras não se constituem em uma mera compilação ou registros das formulações e reflexos do pensar teológico humano, ao longo dos tempos. A Bíblia não representa a apreensão subjetiva, e estritamente humana, de comunidades “lucanas”, “petrinas”, “paulinas” – eivadas de erros, mitos e cacoetes próprios, que precisam ser “descontruídos” para se chegar ao cerne de uma mensagem desfigurada e anacrônica. Muitos livros existem que tratam a Bíblia dessa maneira. O liberalismo teológico tem tomado de assalto diversos segmentos da igreja cristã. Tais trabalhos não servem ao proveito real de ninguém, a não ser à suposta intelectualidade dos autores, antigos e contemporâneos, que assim pretendem se colocar como juizes sobre os textos inspirados. A Bíblia é a palavra inspirada de Deus – merecedora de toda confiabilidade; livre de erro; fonte confiável de instrução ao homem sobre Deus e seus atos criativos, de justiça e redentivos, na história.
O estudo da Teologia constitui-se em uma abordagem objetiva, sistemática e lógica dos dados encontrados nas Escrituras e esse tipo de estudo anda por demais ausente do chamado evangelicalismo. Vivemos em meio a um mar de posições amorfas e pseudo-amorosas que inundam o campo editorial cristão e, com muita intensidade, até o reformado. É necessário trabalhar com propriedade os textos, conceitos e doutrinas e laborar em lógica de pensar – algo perdido e raro entre os evangélicos. É necessário que tenhamos mais vozes que defendam clara e apaixonadamente a infalibilidade das Escrituras.
Temos que apreciar esse papel fundamental da Bíblia. Os reformadores, no século XVI, compreenderam isso. A fé reformada procura fazer com que a interpretação das escrituras seja a mais objetiva possível, de tal forma que o elemento subjetivo esteja sempre sujeito à visão mais transparente e proposicional do texto. Nesse sentido, o resgate do Sola Scriptura, na Reforma, e o re-ensinar da doutrina do sacerdócio universal dos crentes – que, além de outras implicações, nos autoriza a ir até a Bíblia e verificar o que Deus nos falou através de seus autores inspirados, foi passo gigantesco no mundo do subjetivismo e do misticismo em que havia mergulhado a igreja medieval.
Os cristãos não podem se render ao ressurgimento contemporâneo dessa situação eclesiástica, dominada por mentes teológicas atrofiadas, vendidas ao misticismo e subjetivismo, presente em tantas formas cúlticas e de louvor de igrejas, ou de “comunidades” cristãs. Não podemos nos esquecer que Paulo, em Romanos 12.1-2, diz que Deus quer de nós o nosso “culto racional”, com a “renovação da nossa mente”, para que “experimentemos...”. Ou seja, a experiência deve estar subjugada ao entendimento. Mesmo que a racionalidade esteja ausente do nosso meio; mesmo que o subjetivismo esteja patente, com a negação das Escrituras como única fonte confiável de conhecimento religioso; mesmo que inúmeras pessoas passem a dar importância ao direcionamento que “sentem”, ao “recebimento” de revelações e profecias; devemos permanecer racional e firmemente alicerçados na Palavra e sempre considerar bem-vindas obras e livros que tenham essa mesma abordagem e compreensão.
Devemos ser estimulados a pensar e a defender a nossa compreensão e convicções – ou a modificá-las, quando sentirmos o peso da argumentação bíblica e assim formos direcionados pelo soberano Espírito Santo de Deus.
Solano Portela (extraído do blog "O tempora, O Mores")

quarta-feira, 19 de março de 2008

Eu li...Eleitos, mas livres (Norman Geisler)


Norman Geisler é doutor em teologia e PhD em filosofia. Reconhecido como um dos maiores apologistas (defensor) da fé cristã, Dr. Geisler sentiu-se impelido a escrever este livro em resposta aos seus alunos que durante um período de 35 anos fizeram mais perguntas a cerca do tema da salvação do que qualquer outro. Entretanto ao ler este livro tive a impressão de que Geisler não teve a plena intenção responder seus alunos mas de responder de forma crítica ao teólogo, pastor e professor R.C. Sproul, chamado no livro em questão de calvinista extremado ou radical.
Geisler busca na filosofia lógica uma visão equilibrada entre Calvinismo (predestinação) e Arminianismo (livre-arbítrio). Mas vale observar que o autor não foi nem um pouco equilibrado ao declarar como incorretos e anti-bíblicos quatro pontos da doutrina calvinista que é composta por cinco, a saber: Depravação total, Eleição Incondicional, Expiação limitada, Graça Irresistível e Perseverança dos santos. Geisler aceita apenas a doutrina da perseverança dos santos, mesmo assim ele se declara como calvinista moderado. O que parece uma contradição. O leitor mais informado se certificará de que o autor é um arminianista convicto apenas mudou o rótulo.
Pessoalmente, estudando as argumentações de todos os lados, calvinistas, arminianistas e agora o auto-intitulado moderado Norman Geisler, sinto que estou em um debate sério e acirrado sobre quem veio primeiro: ovo ou a galinha? Ou se a bolacha é boa porque é fresquinha ou é fresquinha porque é boa?
De um modo geral a proposta do livro é boa: dialogar entre a soberania de Deus em salvar seus escolhidos e a necessidade da livre-escolha humana de rejeitar ou aceitar a oferta divina, uma vez que a radicalidade em cada um deste extremos pode levar a sérias contradições bíblicas e a unilateralidade entre cristãos.

sábado, 15 de março de 2008

Ei li ..O delírio de Dawkins (A. Mcgrath)

O livro de Alister Mcgrath ( ex-ateu, professor de teologia histórica da Universidade de Oxford e pesquisador sênior do Harris Manchester College. Doutor em biofísica molecular e em teologia pela Oxford) é uma resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins que publicou seu controverso livro: Deus, um delírio. (Uns dos livros mais vendidos em 2007 no Brasil).
Para o Dr. Alister escrever uma resposta a esse livro [Deus, um delírio] é uma tarefa bastante difícil— não por ser bem argumentado ou reunir muitas evidências esmagadoras em seu favor. Mesmo porque, para Alister, o livro [Deus, um delírio] é em geral pouco mais que um ajuntamento de factóides convenientemente exagerados para alcançar o impacto máximo e fragilmente organizados para sugerir que constituem um argumento.
Estamos vivendo um período conturbado onde a ciência parece ser a única resposta aos questionamentos da humanidade. A religião neste caso passa a ser mais um produto inventado pelo homem afim de preencher seus maiores temores. Tragicamente, os cristãos parecem estar a beira de um colapso intelectual, incapazes de fornecer resposta aos profetas ateus como Richard Dawkins. Graças a Deus que ainda existem cristãos bem informados que se preocupam em cumprir o que esta registrado em I Pedro 3.15 (estais preparados para responder todo aquele que vós pedir razão da esperança que há em vós).
Se você não tem paciência para ler o livro [Deus, um delírio], leia pelo menos a resposta. Certamente, algum dias desses você encontrará um discípulo de Dawkins cheio de argumentos vorazes contra sua fé, e o que você dirá? Jesus te ama?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Eu li Hermenêutica Avançada (Henry Virkler)


Recomendo a obra de Virkler a todos aqueles que levam a sério a tarefa da correta interpretação bíblica. Para o autor a tarefa do exegeta é determinar tão intimamente quanto possível o que Deus queria dizer em determinada passagem, e não o que ela significa para mim. Pois segundo Virkler, se aceitarmos o ponto de vista de que o sentido do texto é o que ele significa para mim, então a Palavra de Deus pode ter tantos significados quantos forem seus leitores. Imagine o caos.
Neste exercício sagrado tem que levar-se em conta o abismo histórico, cultural, lingüístico e filosófico que obstruem a compreensão exata das escrituras. Para tanto o autor propõe de maneira clara e objetiva alguns passos para transpor estes abismos que separam o leitor moderno do mundo bíblico.
Acredito que após ler este livro muitos abandonarão o "método cabalístico" de tentar enxergar significados profundos e ocultos por detrás de cada passagem, letra e número. Certamente algo muito comum em nosso movimento carismático.

terça-feira, 4 de março de 2008

Eu li "Anatomia da pregação" - David L. Larsen

Neste livro, o pastor e professor David L. Larsen defende a importância da pregação bíblica em meio ao pos-modernismo existente em nossa sociedade contemporânea. Segundo Larsen, a igreja cresce e diminui por causa da pregação. Na maior parte do livro ele analisa os principais aspectos do desenvolvimento sermonário e propõe dicas relevantes para um aperfeiçoamento da mais fina arte, como ele mesmo define a ato de pregar o evangelho. Não é um livro didático, mesmo porque o autor não tem a intenção de ensinar pregadores a montar um sermão como é de costume dos outros livros sobre Homilética. Todo pregador ao ler este livro será levado a uma auto-análise reflexiva, e se esta foi à intenção de Larsen, acredito que foi bem sucedido. Fiquei com a sensação de que precisamos melhorar nossa comunicação, não para satisfazer nossos anseios por aplausos, mas para fazer a mensagem divina ser bem compreendida em um mundo que dá mais valor a imagens que meras palavras. “Livros não mudam o mundo, mas pessoas. Pessoas mudam o mundo". Leiam.