quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Teologia do altar




Por Daniel Grubba

A primeira vez que li sobre a "teologia do altar" foi no livro Pentecostal de mente e coração - um chamado ao dom divino do intelecto (por sinal, um excelente livro que me influênciou bastante). Simplificando, a teologia do altar é "o conceito de que uma benção de purificação e de poder instantâneos pode ser recebida pela fé, em vez o árduo processo de busca" (NAÑEZ, 2005).

Em termos práticos, isto significa que a pessoa vai ao altar em resposta a um apelo e recebe ali na hora, algo que para um simples mortal poderia durar toda uma vida. Pode ser uma cura física ou emocional, libertação de vícios, transformação do carácter defeituoso, capacitação profissional, idiomas e claro, não poderia faltar; riquezas materiais (isto é mais recente, os antigos pentecostais não eram materialistas). Esta ideologia passou a ser defendida a partir da década de 1840 e se tornou um dos pilares do pentecostalismo moderno, dominando todo o movimento durante todo o século XX.

Poderíamos continuar falando sobre o imediatismo do homem moderno, das influências da filosofia pragmatista americana, da busca pelos resultados imediatos, da tendência humana de trilhar o caminho mais fácil, do ideal "ganho sem esforço", da geração forno de microondas, e assim por diante. Porém, nada melhor do que uma ilustração. Quem nos conta é um dos zaddiqs (sábio ancião) da comunidade dos Alcoólicos Anônimos, o padre Joe Martin.

Imagine um homem que chegue e diga: "Pe. Joe Martin, quero ser um grande cirurgião cardíaco como o Dr. Michael DeBakey. Eu acredito que todo o poder no céu e na terra pertence a Jesus. Então coloque suas mãos sobre minha cabeça e peça a ele que derrame sobre mim o conhecimento e a competência do Dr. Debakey. E assim poderei praticar Medicina". O velho Joe pisca sem poder acreditar e diz: "Filho, vá para um faculdade de Medicina e, depois que terminar sua residência, especialize-se em cirurgia coronariana. Então ingresse num hospital, trabalhe durante anos junto a um dos magos da cirurgia e, talvez, depois de trinta anos, você esteja entre os melhores".

Se acredito no poder de Deus? Absolutamente, Deus já fez coisas rápidas na minha vida. Se acredito que ele pode agir instantaneamente? Claro, ele pode tudo. Se acredito que Deus age assim sempre? Claro, que não. Então em que acredito? No que me revela as escrituras. Acredito na tecelagem divina que regenera em toda a vida. Acredito em um homem que na tardia velhice esperou 25 anos o filho prometido, no caçulinha que esperou décadas em profunda dor até sentar-se no trono do Egito, no fugitivo que aguardou como um pastorzinho de ovelhas 40 anos no deserto do Sinai até ser chamado por Deus, no guerreiro que lutou anos a fio em Canaã até assentar todo seu povo na terra, no jovem pastor que viveu em fuga de um rei insano durante mais de uma década até poder enfim chegar ao trono de Israel. Enfim, a Bíblia é repleta de exemplos. Mas não nos esqueçamos do tal Saul, que recebeu poder instantâneo em virtude da pressa do povo, e terminou a carreira consultando uma feiticeira.

É com pretensão que atribuímos a Deus a tarefa de fazer por nós o que deveríamos estar fazendo. (Brennan Manning)

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