segunda-feira, 1 de junho de 2009

Filosofia e Cristianismo

Texto: Daniel Grubba

Wolfhart Pannenberg postula sobre quatro definições formalmente possíveis na história da relação entre filosofia e teologia (cristianismo) :

A relação entre filosofia e teologia foi concebida (a) como oposição e, por outro lado, procurou-se (b) identificar ambas. Além disso, (c) subordinou-se a filosofia à teologia ou, inversamente, (d) a teologia à filosofia (2008, p.17).

A filosofia como serva da teologia (ponto c de Pannerberg) é nossa opção intelectual-existencial e o que vamos procurar a partir de agora argumentar positivamente. Pois “em certo sentido, a teologia, e não a filosofia, é o domínio mais importante para o pensamento e o intelecto”. (CRAIG & MORELAND, 2005, p.17).

Proclamação do evangelho e apologética

William L. Graig e J.P. Moreland (2005, p.28), renomados filósofos cristãos contemporâneos, são categóricos em dizer que “a filosofia vem desempenhando um papel importante na vida da igreja e na difusão e defesa do evangelho”. E isto nos leva a acreditar que o cristão deve estar habilitado na arte clássica e filosofia de seu tempo e assim usá-la para o beneficio da fé, tanto para difundir o evangelho quanto para defendê-lo dos ataques intelectuais dos opositores.

A proclamação evangélica de Agostinho

Um grande exemplo deste tópico é Agostinho. Foi ele que de modo brilhante se apropriou criticamente da cultura clássica e filosofia para ser posto a serviço do evangelho. Alister Mcgrath faz uma leitura interessante sobre a nobre tarefa deste grande teólogo pratístico:

Para Agostinho, a situação era comparável a fuga de Israel do cativeiro do Egito, à época do Êxodo. Embora tenham deixado para trás os ídolos do Egito, levaram consigo o ouro e a prata para que pudessem fazer um uso melhor e mais apropriado dessas riquezas, que estavam assim disponíveis para servir a um propósito mais nobre que o anterior. De forma bastante semelhante, a filosofia e a cultura do mundo antigo poderiam ser apropriadas pelos cristãos, naquilo em que fossem corretas, e assim poderiam servir a causa da fé cristã (2005, p.53).

A defesa racional de Tomas de Aquino

A apologética também foi beneficiada pelo uso da filosofia. Foi a partir do século XIII que a reflexão filosófica se tornou um valioso recurso para a defesa racional do cristianismo, através da recepção do aristotelismo. Deste modo, mediante o uso da lógica aristotélica, Tomas de Aquino pode “explicar de modo atrativo a fé cristã ao mundo islâmico“(MCGRATH, p.86). Uma de suas grandes obras, Summa contra gentiles, escrita entre 1259 e 1264, foi desenvolvida para uso dos missionários dominicanos que pregavam contra os mulçumanos, judeus e cristãos heréticos da Espanha (WALKER, 2006, p.398).

Ainda sobre a apologética, Craig e Moreland afirmam que “quando uma objeção contra o cristianismo parte de alguma disciplina de estudo, tal objeção quase sempre envolve o uso da filosofia” (2005, p.31). E é justamente por isso que devemos estar preparados filosoficamente para responder todo aquele que pedir a razão de vossa fé (I Pe 3.15) e “comunicar o cristianismo de tal forma que nossa geração possa entender” (SCHAEFFER, 2002, p. 212). Norman Geisler, preocupado com o preparo intelectual dos cristãos, diz que:

...ninguém pode argumentar melhor em prol da verdade do que quando é treinado em argumentação filosófica, pois a tarefa apologética envolve a construção de bons argumentos e fornecimento de boas evidências para justificar a verdade básica do cristianismo (2002, p.62).

Nancy Pearcey, autora americana e estudiosa em Francis Schaeffer, nos alerta para o desafio intelectual que devemos enfrentar nos dias de hoje. E orienta os jovens a buscarem uma nova espiritualidade.

Os jovens crentes precisam de uma religião de cérebro – educação em cosmovisão e apologética – para equipá-los na análise e crítica de cosmovisões concorrentes que eles encontraram mundo afora (2006, p.22).

Elevar ousadia e auto-imagem da comunidade cristã

Não precisa ser nenhum sociólogo para descobrir que os evangélicos de um modo geral têm muita pouca representatividade na sociedade moderna. Parece que o discurso “não somos deste mundo” tem desencadeado processos de alienação histórica de boa parte da cristandade. Julgamos que o mundo é do maligno e nos recusamos a iluminar o mundo e salgar a terra. Todavia, a boa filosofia, deve nos levar a reverter estes processos mediante a reflexão e práxis cristã. Craig e Moreland afirmam que “historicamente, a filosofia tem sido a principal disciplina a auxiliar a igreja na sua relação com os incrédulos” (2005, p.33).

Conclusão

Procuramos neste breve ensaio mostrar a importância da interação entre cristianismo e filosofia. Assim como abordamos as objeções dos que rejeitam ou evitam o uso da filosofia na reflexão teológica e também os motivos pelos quais devemos nos apropriar da filosofia, sempre tendo em vista o benefício da fé crista. Devemos reconhecer que pela pobreza e escassez dos argumentos ainda pode restar à dúvida: Será que a filosofia é realmente necessária para a tarefa apologética e para o cristianismo de modo geral? C.S. Lewis, um dos gigantes intelectuais do século XX, responde:

Ser ignorantes e simples agora [...] seria abrir mão de nossas armas a trair nossos irmãos sem formação acadêmica, que, abaixo de Deus, não tem nenhuma defesa contra ataques intelectuais dos pagãos, a não ser a defesa que lhe podemos oferecer. A boa filosofia deve existir. Se não por outra razão, porque a má filosofia precisa de resposta (2008, p. 61).

5 comentários:

Anonymous disse...

Meu nome é Moacir, fiquei muito feliz com o que li, principalmente no texto:
Julgamos que o mundo é do maligno e nos recusamos a iluminar o mundo e salgar a terra.

Anonymous disse...

meu nome é Moacir
meu e-mail : hankrape@yahoo.com.br

Anonymous disse...

meu nome é Moacir
meu e-mail : hankrape@yahoo.com.br

Daniel Grubba disse...

Olá Moacir,
Obrigado pela visita e pelo comentário. Que Deus nos conceda a graça de sermos luz neste mundo tão abandonado.

Jackislandy e Silmara disse...

Esse texto é um exemplo claro do quanto precisamos ser luz e sal da terra neste frio pela ausência de Deus. A fé não é um instrumento contra a razão, mas um elemento imprescindível para jogarmos luzes sobre a razão. Bom texto. Vou segui-lo nesse blog, espero contribua com o meu blog www.umasreflexoes.blogspot.com , postando um comentário e seguindo.

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