quinta-feira, 26 de março de 2009

Portas largas para Abelardos



O Senhor está maluco! Reduzir o capital? Nunca! ...Para defender meu dinheiro, serás executado hoje mesmo! Herdo um tostão de cada morto nacional!

A concentração do capital é um
fenômeno que eu apalpo com minhas mãos. Sob a lei da concorrência, os fortes comerão sempre os fracos.

Só se pode prosperar a
causa de muita desgraça, mas de muita mesmo!


Estas são falas de Abelardo I, personagem central do livro de Oswald de Andrade - O Rei da Vela. Percebe-se claramente que se trata de uma caracterização perfeita de um ganancioso capitalista, totalmente desumano e egoísta.

A percepção que tenho (quero estar errado), é que Abelardos são bem vindos na maioria das igrejas, e mais; são considerados abençoados, pois segundo o entendimento da massa, foram galardoados com o raríssimo "dom de adquirir riquezas".

Abelardos, na maioria das vezes, encontram seu lugar de destaque nos primeiros assentos (E atentardes para o que traz traje e lhe disserdes: Assenta-te tu num lugar de honra - Tiago 2.3) e são disputados a tapa por líderes que olham apenas a vantagem de tê-los como sócio-parceiros ministeriais. A razão está no fato dos Abelardos poderem colocar a disposição destes megalomaníacos narcisistas o poder da realização. Não há limites. Ora, pense nas possibilidades: Espaço na mídia, status social, abertura política, terrenos, templos, e alguns mimos também.

Abelardos são aqueles que não sabem discernir entre a sua mão direita e sua mão esquerda. Isto é, não bem onde está o limite entre a necessidade e o desejo. Sua convicção é a de que Deus realizará todos os seus desejos, mesmo que isto implique em cavar ainda mais o abismo da desigualdade social.

Pergunto como é possível algo outrora considerado tão perverso se tornar um símbolo de status e mera convenção social? Ora, será que houve uma trágica redução do evangelho, aquilo que René Padilla chama de evangelho-cultura? Isto é, podemos dizer que o evangelho se tornou um covil de Abelardos? Será que a mensagem de prosperidade material conseguiu alienar as consciências e encobrir a estupidez da exclusão social, exploração dos pobres e aniquilação dos recursos naturais?

Pense e reflita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário