terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Apologética e o judaísmo / Parte III




Craig J. Hazen, professor associado de Religião e Apologética Comparativa na Biola University e Ph.D. em estudos da religião pela Universidade da Califórnia diz que:

...um antigo etos de demonstração havia muito estabelecido na tradição do Antigo Testamento. Dos milagres de Moises na corte de faraó (Ex 7), passando pela disputa de Elias como os profetas de Baal (1 Rs 18), até o próprio Deus chamando seus oponentes para “exporem a sua causa” e “apresentarem as suas provas” (Is 41.21) havia um padrão divino já estabelecido bem antes de Jesus entrar em cena[1].

O Antigo Testamento também faz amplo uso da apologética em sua composição literária-histórica. Isto mostra claramente que a antiga religião judaica foi assediada por influências pagãs do mundo circundante e teve que aprender a defender a originalidade de sua fé. Muitos acreditam que não podemos ver a religião de Israel como um sistema fechado, livre das influências religiosas, filosóficas e sócio-culturais de sua época. Um defensor fervoroso desta visão chama-se Werner H. Schmidt, trata-se de um teólogo alemão expoente da alta crítica histórico-literária que pesquisou a relação entre a história e teologia do Antigo Testamento. Ele afirma:

Diversas influências fizeram que surgissem elementos novos; ainda assim, o termo “sincretismo” não apreende suficientemente esse fenômeno. A adoção de material estranho é um processo sumamente crítico, que encerra seleção e transformação, revelando assim uma confrontação: coisas incompatíveis são rejeitadas[2] [...] Por conseguinte, a adoção de ideário estrangeiro não acontecia de modo nenhum em termos globais, mas era um processo extraordinariamente crítico, que, por isso se torna testemunho do conflito de Israel com as religiões ao seu redor[3].

No primeiro livro da bíblia temos um exemplo clássico de como funcionava esta revisão crítica dos escritores do AT. Não cabe discutir quem foi o autor, mas o fato é que ele teve muita perícia ao confrontar certos aspectos míticos da criação da sua época logo nos primeiros capítulos de Gênesis. A epopéia babilônica da criação conhecida como Enuma elish[4] era um mito bastante comum no mundo antigo, e comparando com a criação de Gênesis, apesar das semelhanças, existe um confronto claro entre as cosmogonias israelitas e babilônicas. A fé em Javé sempre sobressai quando comparado ao panteão de deuses pagãos.

Período interbíblico
A apologética também pode ser encontrada em um período posterior conhecido como Período Interbíblico. Quem defende esta tese é o pesquisador David S. Russell. Após pesquisar textos literários desta época, ele afirma que:

De fato, toda a literatura judaico helenística, da época da Septuaginta até Josefo ao final do primeiro século d.C., tinha como alvo a condenação da idolatria, principalmente através de ridicularizacões, e a defesa do Judaísmo contra as intromissões de tal influencia pagã[5].

Oskar Skarsaune, doutor em teologia, professor de patrística e história da igreja primitiva pesquisou alguns pedaços e fragmentos da rica literatura judaica que foram dedicadas à refutação do paganismo. Na verdade são escritos preservados, ou fragmentos de escritos que vai do período de 200 a.C. a 100 d.C. Para Oskar Skarsaune estes escritos podem ser considerados como legitima apologética judaica. Entre estes escritos se encontram:

Sabedoria de Salomão é refutação judaica clássica do culto aos ídolos. Carta de Aristeas conta a historia da tradução da Septuaginta e ao mesmo tempo é um documento que tece elogios a Tora e a excelência da lei mosaica. Contra Flaco e Mensagem a Gaio de Filo de Alexandria narra a historia da perseguição em Alexandria e sua jornada para Roma como líder de uma delegação judaica. Num sentido mais amplo, todos os livros de Filo podem ser considerados apologéticos e missionários dedicados à defesa do judaísmo. A obra de Josefo Contra Apion é uma defesa hábil do judaísmo e Historia dos Hebreus também pode ser considerada apologética[6].

Oskar Skarsaune acredita que os discípulos diretos de Jesus e seus primeiros seguidores encontraram dentro do território espiritual dos judeus uma batalha vencida contra o paganismo em virtude os esforços dos apologistas judeus. Ele diz que:

O paganismo é, em grande parte, um fenômeno distante, presente o tempo todo nas imediações das comunidades, porem não constituía ameaça ou desafio porque os cristãos a haviam abolido, em larga medida, mesmo antes de se tornarem cristãos [...] A verdadeira ameaça vinha de outra parte: das várias distorções da doutrina bíblica, de facções e falsas ambições entre os próprios cristãos[7].




[1] William L. Craig & J.P Moreland, Ensaios Apologéticos, p.45, 46.
[2] Werner H. Schmidt, A fé no Antigo Testamento, p.21.
[3] Idem, p. 271.
[4] A epopéia babilônica Enuma Elish atribui a criação ao deus Marduque que ao vencer a deusa do mar Tiamat, forma da metade superior desta o céu e da inferior da terra. Os homens foram criados com o sangue divino.
[5] David S. Russel, Entre o Antigo e o Novo Testamento, p. 13.
[6] Oskar Skarsaune, A sombra do templo, p.231.
[7] Idem, p.231.

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