quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Genocídio cananeu (Js. 6.21) - Parte II

“E destruíram totalmente, ao fio da espada, tudo quanto havia na cidade, homem e mulher, menino e velho, bois, ovelhas e jumentos”. (Js. 6.21)

Acredito que a abordagem do genocídio cananeu e a conseqüente busca por uma interpretação fiel e imparcial deste registro em particular são extremamente relevantes por algumas razões. Em primeiro lugar, porque esta passagem é uma pedra de tropeço para muitos que vêem nestes registros um motivo para desacreditar na validade das palavras da Bíblia ou até mesmo na existência de Deus. Para o ateu George H. Smith, o Deus do AT reuniu uma respeitável lista de atrocidades. Thomas Jefferson acreditava que os relatos do AT revelam um Deus cruel, vingativo, caprichoso e injusto. A lista de acusações é bastante extensa, mas dá para perceber como alguns textos são particularmente odiosos para alguns grupos específicos de leitores, principalmente os que não vem na Bíblia uma fonte incomparável de autoridade divina. O caso mais recente de fúria contra a bíblia vem do "rotweiller de Darwin", o biólogo ateu Richard Dawkins, que baseado em trechos seletivos do AT, caracteriza Deus deste modo:

Controlador mesquinho, injusto e intransigente; genocida étnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor misógino, homofóbico, racista, infanticida, fifícida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo.

Em segundo lugar, porque uma má compreensão destes registros veterotestamentários pode levar o intérprete a um caminho perigoso de liberalismo teológico. Muitos são os teólogos que vêem no genocídio cananeu e em outros textos violentos, um erro irreparável, distante de qualquer justificativa razoável. C.S. Cowles, professor na Point Loma Nazaré University é um deles. Ele confessa dizendo:

Se crermos que Jesus realmente é a “imagem de Deus” (Cl 1.15), então, temos de resistir a qualquer tentativa de defender as ordens genocidas do AT como expressão da vontade e do caráter de Deus. Uma vez que Jesus já veio, não temos obrigação de justificar o que não pode ser justificado e só pode ser descrito como anterior a Cristo, inferior a Cristo e contrário a Cristo.

Será que o genocídio cananeu é realmente injustificável? Esta “limpeza étnica” é um ato divino ou diabólico como C.S. Cowles parece dizer? Existe uma hermenêutica que nos ajude a dar uma resposta plausível para ateus, teólogos liberais e cristãos de um modo geral?

Em terceiro lugar, porque uma má interpretação destas passagens pode levar a uma contextualização perigosa e em alguns casos, pode gerar violência, contrariando completamente o espírito pacífico do cristianismo. As cruzadas, a santa inquisição e o julgamento das feiticeiras de Salem são apenas alguns exemplos de como a hermenêutica pode ser guiada por leis subjetivas e perniciosas.
Fontes:
Lee Strobel, Em defesa da fé .
Stanley Grundry, Deus mandou matar.
Alister Macgrath, O delírio de Dawkins.

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