quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Construção da identidade autônoma

Daniel Grubba


O ser humano está em busca de sua identidade - quem sou eu? - Não queremos apenas existir, queremos saber quem somos. Não é tanto "o que sou", mas principalmente "quem sou". Senão não se compreende, e mais do que isto: não encontra o sentido de sua existência. A resposta para esta pergunta existencial (quem sou eu?) só pode ser respondida pelo ministério da alteridade, do outro que me provoca a ser e principalmente do Outro, do Deus Vivo, que diz sim a nossa existência, e torna possível a formulação da nossa identidade.

O conceito da alteridade, do outro que me provoca a ser, é fundamental para a construção da nossa identidade. Repare na atividade essêncial da nominação, isto é, dar um nome. É na nomeação que o ser anônimo é integrado na comunidade dos outros e deixa de ser alguém desconhecido e incognoscível, para tornar-se uma pessoa.

A idéia de Deus, ao invés de impedir a autonomia humana, liberta-nos da alienação interna. Existe uma brutal diferença existencial entre a alteridade e a alienação; se a alteridade promove a construção do ser, a alienação certamente torna a existência do ser estranha (alienus) a si mesma, isto é; perde-se a identidade.

A única maneira de descobrir sua identidade no mundo é pelo ministério da alteridade, como fator constitutivo da identidade. Sim, pois ninguém se descobre sozinho ou se contrói na solidão. No entanto, alguns existencialistas ateus acreditam que é preciso que Deus morra para o o humano seja, pois a simples idéia da existência de Deus impede a autonomia do humano de ser ele mesmo, de governar sua própria existência e de ser autor de seu ser (o que chamam de asfixia da autonomia).

Essa busca da identidade por meio do outro que é a chave para a construção da identidade. Não se existe totalmente só. Precisamos ser reconhecido. E ser reconhecido pelo outro. É nesta alteridade que podemos ser salvos do enclausuramento. Porém, é diante de Deus, o Outro, que encontramos as respostas para a identidade do ser. O humano se engrandece no contato com Deus-Transcendente, é nele que podemos ir além. Como disse Gesché, resumindo toda esta questão, “diante do Terceiro-Transdente, em que há a promessa de saída de si, de descentramento que liberta”. E a fé em Deus, na alteridade, vai desempenhar papel determinante na autonomia do ser humano.

Sem a idéia de Deus, o ser humano perderia sua singular identidade, e certamente, desapareceria no nada.

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Texto baseado e inspirado no livro O Sentido, do filósofo e teólogo belga, Adolphe Gesché.

7 comentários:

Roberto Vargas Jr. disse...

Meu caro Daniel,
Um pouco de ar fresco, finalmente! Excelente postagem!
Que se poderia esperar? O homem, tanto quanto tudo o mais na criação, só encontra seu significado em Deus, seu Criador. Não é tanto o que o homem pensa de si mesmo, embora este deva pensar... Mas se trata do que Deus diz que ele é. Pois Ele o sabe!
Porém dizer isso neste século é o que há de mais herético ao onipresente humanismo desde o Iluminismo (onipresente também na igreja).
E, sobre Deus como um Outro, totalmente independente de sua criação, relembro a dama verde de C.S. Lewis em Perelandra: "Pensava - disse ela, que era transportada pela vontade daquele que amo, mas agora vejo que caminho com ela. Pensava que as coisas boas que Ele me enviou me arrastavam para dentro delas como as ondas levantam as ilhas; mas agora vejo que sou eu quem nelas mergulha, pelas minhas próprias pernas e braços, como quando vou nadar. Sinto como se estivesse a viver nesse teu mundo sem teto por cima, onde os homens caminham indefesos sob o céu nu. E o encanto com terror também. O nosso próprio ser a caminhar de um bem para outro, andando ao lado d'Ele como Ele Próprio andaria, sem mesmo dar as mãos. Como é que Ele me fez tão apartada d'Ele? Como é que entrou no Seu espírito conceber tal coisa? O mundo é tão mais vasto do que eu pensava".
No amor dEle,
Roberto

Daniel Grubba disse...

Oi Roberto,

Obrigado por participar novamente. Gostei bastante da citação de C.S. Lewis. De qual literatura você pegou? Crônicas de Nárnia?

Grande abraço,
Daniel

Roberto Vargas Jr. disse...

Daniel,
Eu retirei a citação de:
LEWIS, C.S. Perelandra. Mem Martins: Publicações Europa-América.

Eu também a utilizei na seguinte postagem: Paternidade, um devocional experenciado. O tema obviamente não é o mesmo que o seu, mas menciono a questão da "maioridade do homem", segundo os moldes iluministas.
Grande abraço, no Senhor,
Roberto

Roberto Vargas Jr. disse...

Ah, Perelandra é o segundo livro de uma trilogia espacial de Lewis. Principalmente este e o primeiro, Para além do planeta silencioso, são excelente leitura! O terceiro viaja demais.
Abs,
Roberto

Daniel Grubba disse...

Oi Roberto,

Que legal. Não conhecia esta literatura de Lewis. Vou procurar depois. Alias, estou com as Crônicas para ler e ainda não tive coragem de começar...rs...é muito grande.

Abçs.

Roberto Vargas Jr. disse...

rsrs
Pô, você lê este Gesché (que não conheço) e Kierkegaard e acha as Crônicas grande?! rs
Não se espante com o volume grande. As letras também são e tem figuras, já que a literatura, embora tenha temas profundos, é infanto-juvenil! E a leitura é tão agradável que você lê o volumão com as sete crônicas em um dia ou dois tranquilamente!
Abs, nEle,
Roberto

Daniel Grubba disse...

oh loko....em um dia ou dois....rs...? Acho que vou ler nas minhas férias, no fim do ano para relaxar a mente.

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