sexta-feira, 31 de julho de 2009

Nietzsche, esse louco!



Por Luiz C. Leite

"A última coisa que eu haveria de prometer seria 'melhorar' a humanidade. Eu não haverei de erigir nenhuns novos ídolos... derribar ídolos (a minha palavra para ideais), isso sim é que faz parte do meu ofício".

Ler Nietzsche é perigoso para os despreparados. Poucos ultrajaram o sistema, e em particular, a sociedade cristã de forma tão agressiva e sangrenta quanto ele. Sua filosofia demolidora pode despertar aquele que sonha, e pior, conduzí-lo a um pesadelo. Segundo Freud, Nietzsche alcançou um grau de introspecção anímica jamais alcançado por alguém e que dificilmente alguém voltará a alcançar um dia.

Esse olhar para dentro, que faz com que os homens despertem da doce ilusão com a qual seus muitos ídolos os envolvem, é ao mesmo tempo um exercício desejável e assustador. Quantos de nós estão preparados para a desilusão de um encontro frontal com sua alma desnuda? Quantos estariam preparados para encontrarem-se com o homenzinho encarquilhado e, humildemente reconhecer: "Esse sou eu!"

A natureza humana tenta esconder por todos os meios o homenzinho encarquilhado, mas de que adianta negá-lo, escondê-lo, se ele teimosamente permanece lá? Nietzsche encontrou-se com a verdade a respeito de si mesmo, o homem caído, e fez questão de publicar as misérias e mazelas da espécie. Não considerou que essa criatura falida poderia nascer de novo para uma realidade outra. Que pena que não tenha ído, na calada da noite, às escondidas, se encontrar com Jesus, como fez Nicodemos, para ouvir a respeito da possibilidade fantástica do novo nascimento!

Por mais trágico que pareça, o homem não é um caso perdido. Nietzsche infelizmente falhou em reconhecer no Cristo a salvação dos homens e tentou aniquilar a única esperança que resta à humanidade, investindo enlouquecidamente contra o mesmo... Perseguiu a Jesus e a seus seguidores como um Saulo enraivecido...Resultado? Morreu louco!

Será que, como Saulo de Tarso, teve a oportunidade de ouvir o som da voz majestosa que despedaça os cedros do Líbano a dizer-lhe: "Nietzsche, Nietzsche, por que me persegues? Dura coisa é para ti recalcitrar contra os aguilhões" Espero que sim, e mais, espero que tenha feito as pazes com o Crucificado antes do rompimento do fio de prata, antes do último suspiro...

Filho e neto de pastores protestantes, quem sabe não voltou pra casa, como um pródigo mulambento, mas salvo? Agora imagine, que surpresa seria encontrarmos esse maluco nas mansões celestiais! Pois é, só aguardando...

***

Luiz C. Leite é pastor, psicanalista, administrador de empresas, conferencista e escritor. Autor de "O poder do foco", editora Memorial; e "A inteligência do Evangelho", editora Naós; além de vários títulos por publicar.

Confira o blog do escritor: http://luizvcc.wordpress.com/

Fonte: Guia-me

2 comentários:

Marcus cesar disse...

Ler Nietzsche é perigoso para os despreparados. Poucos ultrajaram o sistema, e em particular, a sociedade cristã de forma tão agressiva e sangrenta quanto ele. Sua filosofia demolidora pode despertar aquele que sonha, e pior, conduzí-lo a um pesadelo.

O censor está ligado,cuidado!Primeiro achar que a leitura é para os preparados,mas o que vem a ser os preparados?Se eu não for médico,não posso ler nada em relação a saúde,se não for engenheiro agrônomo nem sequer fazer uma horta!Posso entender preparados como os que são doutrinados,que levam o espírito de rebanho,que agem de acordo com as ordens e decisões de sistema teocrático e teológico (fantasioso,metafísico,imaginário e irracional)!Então despreparado pressupõe que todo ser humano não é responsável e assim seria incapaz de responder por seu ato e responderá por esse quando for preparado!Essa colocação traz a noção de infantilidade a pessoa,e com a preparação estaria pronta para realizar tal leitura!

Daniel Grubba disse...

Oi Marcus,

Concordo com você. Mas acredito que é preconceito ou zelo religioso do autor do texto. Preconceito-zelo em achar que os seus leitores (cristãos) não estão aptos a ler Nietzche, ou apenas alguns estão. Pois muitos como ele acreditam que ler os textos de Nietzche pode acarretar em esfriamento da fé.

Quando a isso, penso que se alguém perde a fé lendo Nietzche ou qualquer outro filósofo ateu, é porque nele não havia fé, mas uma adesão religiosa a um sistema de credos e ritos.

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